segunda-feira, 16 de abril de 2012

São Carlos cresce em ritmo de Brasil Grande

Conheça mais alguns detalhes sobre São Carlos

 Alguns números que impressionam.

São Carlos, com 213 000 habitantes, é hoje um dos maiores centros de inovação do Brasil. Das 700 indústrias lá estabelecidas, 200 vendem produtos e serviços baseados no conhecimento de profissionais altamente qualificados. Com isso e com sua grande concentração de centros de formação universitária e pesquisadores, a cidade reivindica o título de capital da tecnologia para atrair investimentos.

Recentemente, São Carlos foi escolhida como uma das cinco cidades que terão apoio do governo estadual para a construção de parques tecnológicos, projetos de fomento a empresas inovadoras.

Alta densidade de profissionais

A cidade registra a maior densidade de profissionais com doutorado do país, sobretudo nas áreas de engenharia, física e química. Há um doutor para cada 180 habitantes. A média nacional é 1 para 5 423. Somando também os profissionais com título de mestre, a relação na cidade alcança 1 para cada 30 pessoas. Até a administração municipal é atípica.

O prefeito Newton Lima Neto é doutor em engenharia química pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e ex-reitor da Universidade Federal de São Carlos. Dos 15 secretários municipais, quatro têm doutorado e seis são mestres. O município também é recordista nacional em registro de patentes (veja quadro).

A maior parte dessa massa de profissionais com capacidade de inovar foi e continua sendo formada localmente, por universidades públicas alinhadas entre as melhores do país. A USP instalou uma escola de engenharia na cidade em 1953. A UFSCar começou a funcionar em 1970, tam bém com forte inclinação para as ciências exatas. Juntas, elas formam mais de 450 engenheiros por ano e mantêm oito dos 65 cursos de mestrado e doutorado mais bem avaliados do país.

Berço de novas empresas

O melhor da história é que o conhecimento produzido por alunos e professores universitários transpôs os muros das escolas e hoje fertiliza novos negócios. A cidade não criou nenhuma empresa do porte da Embraer, que nasceu com apoio estatal em outro pólo paulista de tecnologia, o de São José dos Campos. Mas São Carlos gerou uma aglomeração diversificada de empresas de pequeno e médio porte de alta tecnologia, muitas delas nascidas da iniciativa de doutores-empreendedores. "Geralmente elas oferecem produtos ou serviços altamente especializados e raros no país", afirma Ana Lúcia Torkomian, diretora da Fundação de Apoio Institucional ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico, da UFSCar.

Um exemplo é a Equitron, especializada em automação robótica. Fundada há 23 anos pelo engenheiro José Guilherme Sabe, doutor em mecatrônica, a empresa fornece linhas de montagem para o setor automotivo. Uma linha como a vendida recentemente pela Equitron à subsidiária mexicana da ArvinMeritor, para produzir rodas da montadora Nissan, contém equipamentos e robôs controlados por 25 computadores. Somente Alemanha, Japão e Estados Unidos têm empresas que fabricam linhas de montagem desse tipo. Mesmo com o sucesso da Equitron, Sabe faz questão de continuar ministrando aulas na escola de engenharia da USP de São Carlos. "Eu e meus sócios teremos de estudar o resto da vida, e continuar na universidade é uma forma de seguir estudando", diz ele.

Um setor em que brotaram muitos negócios é o da instrumentação médica. A MM Optics, fundada há nove anos, é a única no país que fabrica um equipamento para o tratamento fotodinâmico de câncer, que associa aplicação de luz e medicação. A empresa foi concebida durante a tese de mestrado em ótica aplicada do engenheiro mecânico Fernando Ribeiro. "Eu já pensava em montar meu próprio negócio na universidade", afirma Ribeiro. "Aqui em São Carlos isso foi facilitado pela abundância de gente capacitada." A MM Optics tem um quadro de 58 funcionários, dos quais oito são físicos ou engenheiros -- entre eles dois doutores e dois mestres.

O pólo tecnológico de São Carlos

O surgimento do pólo tecnológico de São Carlos deu-se de modo similar a outros criados mundo afora. Guardadas as devidas proporções, o Vale do Silício, na Califórnia, também teve como origem os centros universitários, especialmente o da Universidade de Stanford, de onde saíram, por exemplo, os fundadores da HP. As semelhanças, porém, param aí. São Carlos não conta nem de longe com a estrutura que possibilitou que empresas abertas em garagens e incubadoras se transformassem nas atuais potências do Vale do Silício.

A falta de capital é do que mais se ressentem os empreendedores brasileiros. A Opto não encontrou no Brasil, mas na Austrália, o aporte de 4 milhões de dólares para viabilizar seu projeto de internacionalização. Antes da empreitada do satélite sino-brasileiro, a empresa, fundada há 20 anos, já era a única no país a fabricar equipamentos como o laser para cirurgias oftalmológicas. "Tínhamos produtos, mas faltava estrutura comercial para promovê-los fora do país", afirma Castro Neto. Com o aporte do fundo Innovation Capital, ele abriu há um ano a Opto Global, com sede na cidade australiana de Adelaide. Lá, 15 funcionários trabalham promovendo os produtos da Opto nos mercados europeu e asiático. Em Sacramento, na Califórnia, outra equipe, de cinco pessoas, batalha por espaço no mercado americano.

Além de germinar novos negócios, o pólo tecnológico criado em São Carlos vem atraindo grandes empresas para a cidade. Entre elas estão uma fábrica de motores da Volkswagen, a americana Tecumseh, do setor de compressores para refrigeração, e uma unidade da Electrolux. Em 2001, a TAM inaugurou na cidade seu centro de manutenção de aeronaves. "Identificamos que a base tecnológica em mecânica e eletrônica seria um terreno fértil para promover a especialização de profissionais em aeronáutica", afirma Ruy Amparo, vice-presidente técnico da companhia aérea. Antes da inauguração do centro, os aviões da TAM recebiam manutenção na Europa. Agora, a empresa economiza 4 milhões de dólares por ano, além de gerar 600 empregos diretos.

A chegada da TAM e também da Embraer -- que instalou sua segunda fábrica há cinco anos na cidade vizinha de Gavião Peixoto -- promoveu novos avanços no campo do ensino. A USP de São Carlos criou um curso de engenharia aeronáutica, o segundo do país, a prefeitura e o Senai abriram um curso técnico de manutenção de aeronaves e, neste ano, começou a funcionar um curso de tecnologia em aeronáutica na UFSCar. "Queremos ter a cadeia de formação completa para sustentar o pólo aeronáutico que está sendo criado na cidade", afirma o prefeito Lima Neto. "Ter o conhecimento não basta. É preciso ter a capacidade de transformar conhecimento em produto e serviço."


Fonte: Portal Exame

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