Pedro Henrique Camargo de Toledo
“As pessoas não são solidárias porque constroem mais paredes que pontes”, dizia Joseph Newton.
Sergio Ronco
Pois bem, há tempos fui apresentado ao Pedro Henrique Camargo de Toledo, ou simplesmente e carinhosamente conhecido por Pedrão. Falhei na tarefa de não ter tido o privilégio de entrevistá-lo à época da apresentação, passei batido com as 10.
Pedrão tem raízes fortemente fincadas em Ribeirão Bonito, pois toda a família é nascida na cidade. Sua mãe, mais tarde, foi morar em São Carlos onde nasceu Pedrão. Eliseu Camargo, pessoa muito conhecida em Ribeirão Bonito veio a ser tio do Pedrão. A Fazenda Santa Rita foi de propriedade do avô do Pedrão, João Soares de Camargo.
No último domingo(22), estava com um grupo de amigos no Santa Eliza Eco Resort em Ribeirão Bonito quando eis que novamente avisto a figura daquele que sonhei um dia em poder contar um pouco da sua história. É claro que não se trata de exclusividade, pois o país inteiro já entrevistou o Pedrão, mas eu queria ter essa satisfação também.
Lá no alto deste texto tem um pensamento que a princípio parece estar descolado com os demais parágrafos, mas eu explico. Durante 40 minutos de conversa, eu avalio que o Pedrão foi um profissional injustiçado. No decorrer desta entrevista, talvez o leitor possa concordar comigo.
Quem é o Pedrão? Pedrão é um professor de educação física, bom pai, extremamente família e apaixonado pelo que fez durante anos de sua vida. Agora sim posso dizer o que ele fez profissionalmente, pois essa sequencia na apresentação está literalmente na ordem correta. Pois antes de ter sido um profissional competente, sempre foi um cidadão de caráter impar, transparente e verdadeiro(todos a quem perguntei sobre o Pedrão disseram a mesma coisa). Na área profissional, Pedrão foi o treinador de ninguém menos que João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, recordista mundial do salto triplo, onde cravou a marca dos 17,89 m nos Jogos Pan-Americanos. Sentado confortavelmente em uma poltrona na Fazenda Santa Eliza, Pedrão conversou com o Blog do Ronco
“Pode ser demagogia, mas eu amava muito esta cidade(Ribeirão Bonito) e continuo amando”, disse Pedrão que lembrou de alguns amigos da época: Décio Mateus, o Victor Mateus, o “Feijão”, o João Gilberto, o primo Gibinho, o José Paulo Lucato. "Fui muito amigo do pai do Josmar, O Clemente Verillo que era bem mais velho que eu, mas muito meu amigo. Eu tinha no Clemente um ídolo. É obvio que isso vai ser cortado, mas ele era o fudidão da praça, ninguém podia com ele. Respeitava todo mundo, mas se alguém quisesse tirar farinha com ele, estava danado".
Pedrão carrega uma grande mágoa com a Confederação de Atletismo, que segundo afirmou, fizeram de tudo para que seu nome fosse apagado do cenário esportivo. No curriculum do treinador do João do Pulo, está também o trabalho durante 15 anos como técnico do E.C.Pinheiros. Foi técnico da equipe olímpica brasileira de atletismo nos jogos de 1976, 1980, 1984 e 2008, além de inúmeros campeonatos sul-americanos. Foi preparador técnico da Seleção Brasileira de Basquete numa época difícil do esporte. Foi coordenador do Esporte Estudantil no Brasil. Agora eu pergunto a vocês caros leitores: Como tentar apagar o nome de um cidadão com essas qualidades e diretamente também um medalhista mundial? Coisas da política que o Pedrão bem conheceu.
O recorde, imbatível por 10.958 dias, ninguém apaga. "Eu me lembro que fomos do hotel para o estádio em um carro de um repórter de uma revista, que nos deu carona. Fomos eu, o João e o Nelson Prudêncio. Para Pedrão uma medalha de bronze estaria de bom tamanho. "Em hipótese alguma esperávamos a de ouro", disse Pedrão.
"Pedrão é uma dessas figuras raras deste país, extremamente competente. É um professor com “P” maiúsculo", disse o jornalista e apresentador Juca Kifouri certa feita.
“O João(João do Pulo) foi uma das coisas mais importantes profissionalmente que aconteceu para mim. Como amigo também, ele é meu compadre foi padrinho de casamento de minha filha, morou comigo por 5 anos, era um amor de negrão. Não tinha jeito de não gostar dele. Tinha um coração espetacular, não esperava as pessoas cumprimentá-lo ele ia e cumprimentava antes, abria as portas, abria a possibilidade de manter um diálogo. Eu o trouxe aqui para Ribeirão Bonito, uns 20 dias depois que ele bateu o recorde do mundo. Eu queria homenagear através da vinda do João, a cidade de Ribeirão Bonito. E graças a Deus consegui, foi tudo bem, os problemas que tiveram foram insignificantes comparada a repercussão que teve” disse Pedrão.
Nota da Redação: Ao que consta o João do Pulo teve problemas para entrar no Primavera Clube. Pedrão não discorreu sobre o fato.
Perguntado se Pedrão confiava que o João do Pulo pudesse chegar aonde chegou, disse: “ Depois de detectá-lo através dos olhos, eu detectei outros esportistas. Só não pude terminar o que eu previa, ou aquilo que eu esperava desses atletas que eu acabei vendo neles tanta condição, porque politicamente eu não era bem quisto na confederação(Confederação Brasileira de Atletismo). Eu era muito conhecido e muito respeitado e nunca fui servil, nem subserviente, com isso acabou a minha carreira como profissional de educação física e de técnico de atletismo”.
“Hoje eu valorizo muito mais as coisas que aconteceram, pois a idade(75) já me permite ser mais ponderado, nas críticas , nas exigências...enfim hoje a vida já me ensinou uma porção de coisas que eu soube aprendê-las. “Você veja uma coisa por exemplo, existe no mundo uma coisa que pague a satisfação de vir aqui...eu conheci o Josmar pequeno. De repente eu venho num paraíso(Fazenda Santa Eliza), tocado por um amigo, que não é vergonha, mas na época eles eram pessoas de poucas posses, e hoje você vê um cara vitorioso, um cara que inclusive não fôra a bondade e a compreensão eu teria ficado sem os últimos três anos de trabalho, por falta de dinheiro para poder dar universidade para os atletas, o Josmar é que conseguiu o patrocínio e me sustentava”.
Pedrão fez questão de ressaltar durante nossa conversa que o mérito do João do Pulo ter chegado aonde chegou foi pelo empenho e profissionalismo de uma equipe e não somente dele. “O grande campeão é fruto de um trabalho de equipe. Isso permitiu que o João fosse considerado o maior atleta do mundo de todos os tempos”, ressaltou.
Blog do Ronco: Você ganhou dinheiro com tudo isso?
Pedrão: Nada! Nada! Eu sou ainda hoje o único técnico que nunca cobrou comissão de atleta. O atleta, por exemplo, ganhava um prêmio de 2 mil dólares, tinha que dar 400 dólares para o treinador. Eu nunca peguei um tostão, eu paguei! Eu paguei do meu bolso ene bolsas de estudos. Desses técnicos que estão aí que hoje me tratam com muita reserva, uma grande maioria terminou de fazer o curso porque o Pedrão enfiava a mão no bolso. Eu ganhei mais que dinheiro, eu ganhei o reconhecimento de alguns e você para ser feliz com o reconhecimento, não precisa ser para uma multidão, são algumas pessoas que você faz questão que te reconheçam, e essas pessoas eu tenho.
A mensagem: Se o garoto enxergar que tem uma viagem diferente da viagem da droga, a viagem do esporte, subir em um ônibus e ir competir, de ter saúde...a coisa teria um sentido maior e assim seria melhor.