Tempo
de plantar e de colher
Antonio Chizzotti
Há
um refrão popular que diz: todos gostam
de casa limpa,mas nem, todos gostam de limpar a casa. Limpar a casa supõe um
trabalho silencioso, penoso e quase nunca reconhecido; sem ele, porém, a vida
cotidiana se desorganiza, afeta todos os membros da casa e gera uma balbúrdia
generalizada.
O
controle da administração pública e a corrupção dos agentes públicos são, pelo
prejuízo generalizado que produz, um grande desarranjo social, intoleráveis
para qualquer cidadão honrado, porque pesa, principalmente, sobre os mais
pobres e indefesos. Qualquer trabalhador honesto, que paga os impostos com seu
duro trabalho, fica indignado com a
corrupção dos agentes públicos que levam para seus bolsos parte do salário
ganho com o pesado trabalho meu, seu e nosso. A família fica privada de justos
benefícios; os filhos, de muitas alegrias.
Quando
alguém reconhece o tamanho do seu prejuízo, sua indignação provoca discursos
exaltados e promessas de providências
saneadoras; mas, com o tempo, sem meios de corrigir tais desmandos, vira
ira guardada no fundo da alma. Quer arrumar a casa desarranjada, mas não
encontra por onde começar, nem sabe quem virá ajudar. Outros rirão dele porque
é inexperiente e não conseguirá nada; outros, porque a sina da vida será sempre
assim: uns mandam, os tolos se sujeitam, candidamente.
Controlar
a administração pública, lutar contra a corrupção é uma tarefa grandiosa
pelos
efeitos que produz e pelos resultados humanos e sociais, que promove. É
um
gigantesco trabalho: arruma, silenciosamente, a casa de todos. Não é,
porém,
uma tarefa fácil. Supõe contrapor-se a alguns interesses privados
pessoais e
seus aliados, contradizer derrotistas ferrenhos, mover acomodados e,
sobretudo, reunir todas as energias para querer arrumar a casa de
todos, não só a
minha.
Esse
salto daquilo que é só meu, minha casa e
minhas coisas para cuidar do interesse coletivo requer uma decisão pessoal
generosa. Alguns chamarão de virtude humana caridosa: olhar as necessidades
humanas dos mais vulneráveis e expostos e ajudar com a doação gratuita de si, dos bens
e das capacidades pessoais em favor da solução das injustiças, que desvendamos
nas teias da vida e da sociedade. Outros ressaltam o aspecto social dessa
decisão e a reconhecerão como a disposição de partilhar ativamente da gestão
dos bens públicos e, conscientes da justiça e dos direitos humanos de todos,
corrigir desmandos que destroem, silenciosamente, a vida de muitos lares, da cidade e de qualquer
sociedade.
Um provérbio
chinês afirma: podemos escolher o que plantar, mas somos obrigados a colher o
que plantamos. Quem planta justiça, transparência, honestidade ou as virtudes
humanas e sociais quer que todos tenham o que lhes é justo; se a
semente for a injustiça, a corrupção ou tantos outros vícios sociais, que
destroem vidas, lares e cidades, então, é de se esperar que o saco de maldades
e desgraças será muito grande para mim, para ti, para todos nós.
O tempo
de plantio tem que ser decidido; o que colher, também.
Um comentário:
Parabens, tive o privilégio de ser aluno, "no ginasio em dourado", desse r.senhor.
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