segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Editorial: Tempo de Plantar e de Colher - Antonio Chizzotti

 Tempo de plantar e de colher
Antonio Chizzotti 

                Há um  refrão popular que diz: todos gostam de casa limpa,mas nem, todos gostam de limpar a casa. Limpar a casa supõe um trabalho silencioso, penoso e quase nunca reconhecido; sem ele, porém, a vida cotidiana se desorganiza, afeta todos os membros da casa e gera uma balbúrdia generalizada.
                O controle da administração pública e a corrupção dos agentes públicos são, pelo prejuízo generalizado que produz, um grande desarranjo social, intoleráveis para qualquer cidadão honrado, porque pesa, principalmente, sobre os mais pobres e indefesos. Qualquer trabalhador honesto, que paga os impostos com seu duro trabalho, fica indignado  com a corrupção dos agentes públicos que levam para seus bolsos parte do salário ganho com o pesado trabalho meu, seu e nosso. A família fica privada de justos benefícios; os filhos, de muitas alegrias. 

                Quando alguém reconhece o tamanho do seu prejuízo, sua indignação provoca discursos exaltados e promessas de providências  saneadoras; mas, com o tempo, sem meios de corrigir tais desmandos, vira ira guardada no fundo da alma. Quer arrumar a casa desarranjada, mas não encontra por onde começar, nem sabe quem virá ajudar. Outros rirão dele porque é inexperiente e não conseguirá nada; outros, porque a sina da vida será sempre assim: uns mandam, os tolos se sujeitam, candidamente.

                Controlar a administração pública, lutar contra a corrupção é uma tarefa grandiosa pelos efeitos que produz e pelos resultados humanos e sociais, que promove. É um gigantesco trabalho: arruma, silenciosamente, a casa de todos. Não é, porém, uma tarefa fácil. Supõe contrapor-se a alguns interesses privados pessoais e seus aliados, contradizer derrotistas ferrenhos, mover acomodados  e, sobretudo, reunir todas as energias para  querer arrumar a casa de todos, não só a minha.

                Esse salto  daquilo que é só meu, minha casa e minhas coisas para cuidar do interesse coletivo requer uma decisão pessoal generosa. Alguns chamarão de virtude humana caridosa: olhar as necessidades humanas dos mais vulneráveis e expostos  e ajudar com a doação gratuita de si, dos bens e das capacidades pessoais em favor da solução das injustiças, que desvendamos nas teias da vida e da sociedade. Outros ressaltam o aspecto social dessa decisão e a reconhecerão como a disposição de partilhar ativamente da gestão dos bens públicos e, conscientes da justiça e dos direitos humanos de todos, corrigir desmandos que destroem, silenciosamente, a vida  de muitos lares, da cidade e de qualquer sociedade.

                Um provérbio chinês afirma: podemos escolher o que plantar, mas somos obrigados a colher o que plantamos. Quem planta justiça, transparência, honestidade ou as virtudes humanas  e sociais quer  que todos tenham o que lhes é justo; se a semente for a injustiça, a corrupção ou tantos outros vícios sociais, que destroem vidas, lares e cidades, então, é de se esperar que o saco de maldades e desgraças será muito grande para mim, para ti, para todos nós. 

                O tempo de plantio tem que ser decidido; o que colher, também.

Antonio Chizzotti - Doutor em Educação pela PUC, com pós graduação em Paris - França. É professor do programa de Pós-Graduação em Educação pela PUC-SP

Um comentário:

arnaldo davoglio disse...

Parabens, tive o privilégio de ser aluno, "no ginasio em dourado", desse r.senhor.