A arte de Gino, o italianinho

Talvez a história de Girolamo Mirabella não seja tão diferente do imigrante que deixa sua terra natal em busca de trabalho, mas com certeza, esse italianinho que deixou o porto de Nápoli(Itália), em 12 de dezembro de 1952 a bordo do transatlântico Conte Grande, não sabia que suas mãos deixariam marcas no país que escolheu para viver, o Brasil.

 Gino ao lado da esposa Maria Pia

Nascido na pequena Vila Rosa – Sicília, Girolamo Mirabella, carinhosamente conhecido por Gino, aos 19 anos decidiu que não mais viveria na Itália. “Sempre ouvi falar bem do Brasil, sonhava que poderia aperfeiçoar a profissão de marmorista no Brasil”, disse Gino.  Com certa tristeza, Gino comentou: “Quando deixei a Itália, ainda sentia o cheiro da guerra”.

Perguntado sobre a máfia Siciliana, o italianinho lembrou que conheceu Salvatore Juliano e que somente depois de muitos anos, ficou sabendo que Juliano era um dos Capo di Tutti i Capi da Camorra Italiana.

Na realidade seu pai era reconhecidamente um mestre em escultura em mármore, de quem  Gino herdou os conhecimentos necessários para colocar à disposição, o seu trabalho, daqueles que apreciavam a arte no Brasil.

Gino completou 20 anos em solo brasileiro, e não precisou procurar emprego, pois no Brasil a Marmoaria Roma já o esperava. Os proprietários já sabiam da fama do bom italianinho. Outra marmoaria que disputou os conhecimentos de Gino foi a Florentina.

Em 1954, Gino teve a oportunidade de assinar seu nome em um dos monumentos mais conhecidos de São Paulo, o Obelisco, Mausoléu aos Heróis de 32, obra do também italiano Gallileu Hugo Emendabilli que fugiu do regime fascista de seu país, vindo parar no Brasil.  As obras do Obelisco teveram início em 1947, terminando somente em 1970.

Símbolo da Revolução Constitucionalista de 1932, o obelisco é o maior monumento da cidade de São Paulo, e tem 72 metros de altura. Tombado pelos conselhos estadual e municipal de preservação de patrimônio histórico, o mausoléu do Obelisco guarda os corpos dos estudantes Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo (o M.M.D.C.) - mortos durante a Revolução de 1932 -, e de outros 713 ex-combatentes.

Gino ficou encarregado de esculpir os contorno das pilastras que circundam o monumento, onde todas deveriam ter as mesmas dimensões. “Não foi fácil trabalhar com mármore e os contornos exigidos”, disse Gino.

O monumento onde Girolamo Mirabella emprestou a arte que aprendeu, está eternizada no país, e aberto à visitação pública.

Outros trabalhos, tão importantes quanto o do monumento, estão em residências particulares . Sabendo da fama de Gino, o  então Conde Francesco Maria Antonio Matarazzo, mais conhecido por Francisco Matarazzo, incumbiu Gino de  desenhar e esculpir todos os batentes de sua residência em mármore vindo da Itália, o Carrara.

Na área médica, Adib Jatene e Sami Arap também se utilizaram dos serviços artesanais de Gino.

Gino ao lado de sua obra, o monumento a São Tomás de Aquino em homenagem ao filho

A lembrança de um dos filhos, Tómas, morto em acidente em 1984, transformou-se em um pequeno altar em homenagem a São Tómas de Aquino, construído pelo Gino no Morro do Bom Jesus, em Ribeirão Bonito, cidade onde vive com a esposa Maria Pia Tiezzi Mirabella e a filha mais nova Débora, formada em Psicologia.

Em São Paulo vivem outros dois filhos,: Ana Maria, que é Psicóloga e Salvador que também enveredou pela arte, mas não a do mármore, a de recuperar automóveis da marca Mercedes Benz, até ganhou o apelido de “O Rei do Mercedes”.

“Tenho muitas histórias, um dia vou contá-las”, disse Gino.

Gino Mirabella é gente Nossa!!!