Se eu tivesse gosto pela fotografia como tenho hoje, teria bons registros dos anos 60. Eu explico: praticamente nasci na Rua Albuquerque-lins 977, Edifício Umuarama de propriedade da família Morganti. Prédio de luxo para a época construído pelo renomado arquiteto Alfredo Mathias. Para se ter uma idéia da imponência desse prédio, a escadaria da entrada principal era toda revestida por mármore importado da Itália, Carrara. Foi o primeiro edifício da Albuquerque-Lins, entre os bairros: Higienópolis e Santa Cecília.
Meu pai trabalhava no Laboratório Novoterápica, também da família Morganti, acabou por perder a visão parcial em um acidente, quando explodiu uma caldeira contendo ampolas de vidro. Apesar de ter sido socorrido prontamente e até mesmo passado por cirurgia pelas mãos de um dos conceituados oftalmologista da época, Penido Burnier, acabou ficando com essa seqüela para o resto de sua vida. O edifício Umuarama estava sendo construído, e como falei, muito material de acabamento chegava do exterior.
Meu pai não aceitou ficar afastado do trabalho em função do acidente. Uma maneira de continuar trabalhando foi transferí-lo para a obra do famoso prédio, tendo como principal função acompanhar todo o material que chegava de fora do país, principalmente da Itália. Após a construção desse prédio, meu pai continuou servindo a família Morganti em algumas questões pessoais e também assumindo a zeladoria do Umuarama.
Voltemos ao gosto pela fotografia e os anos 60/70. Em frente ao Umuarama, residia o então governador do Estado Adhemar Pereira de Barros e sua esposa Leonor Mendes de Barros. A casa era enorme. A entrada principal era na Albuquerque-Lins e o fundo dava para a Rua Gabriel dos Santos, já no outro quarteirão. Ao lado do governador, morava seu genro João Saad, então proprietário do Grupo Bandeirantes de Rádio e TV. Ademarzinho, seu filho, morava na Rua Baronesa de Itú, há 200 metros do pai.
Adhemar gostava demais de crianças. Era comum chegar ao portão principal de sua residência(naquela época não tínhamos, ou não sentíamos falta de segurança), descer do automóvel , ainda na calçada, logo sendo rodeado por um batalhão de crianças e até mesmo de adultos que iam ao seu encontro para o informal aperto de mão. Sempre simpático e agradável. Quando o tempo lhe permitia maior atenção, fazia questão de distribuir bombons Sonho de Valsa da Lacta, fábrica de sua propriedade. Quantas vezes corri em busca do famoso chocolate. Ah, ele me chamava pelo sobrenome dado o conhecimento com meus pais. Anos a frente, João Saad(genro do Adhemar), foi quem deu oportunidade ao meu irmão Pedro Luiz de ingressar na Rádio Bandeirantes, pois cursava jornalismo no Objetivo. Diga-se de passagem, o mano velho, deve ser um dos funcionários mais antigos da emissora, caminha para os 40 anos na emissora dos Saad.
Lembro-me perfeitamente do carrão preto da marca Rolls Royce de propriedade de Ademar(esse automóvel foi adquirido posteriormente pelo cantor Erasmo Carlos). Imaginem que nele havia um telefone! Sim, daqueles aparelhos com console, disco e gancho de liga-desliga. Não perguntem como funcionava! Política nessa época, era o que menos interessava. Jogar bola em plena Albuquerque-Lins era costumeiro. Dava para contar nos dedos os automóveis que passavam naquela rua, era um deserto.
Dona Leonor, esposa de Adhemar, era a simpatia em forma de gente. Educadíssima e prestativa. Sua casa poderia ser confundida como qualquer setor social governamental. Atendia pessoalmente a todos que a procuravam com a maior presteza.
Um pouco antes de sua morte ao visitar um navio de passageiros que aportava no cais, tive o prazer de encontrá-la no Coffe House, aguardando embarque nesse navio. Não me contive! Fiz questão de me apresentar e cumprimentá-la. E não é que lembrou perfeitamente de minha família! Que alegria, a minha!
Quantas imagens boas guardo em minha mente. Pena que não registrei, nem poderia, era adolescente, meus pensamentos com certeza eram outros. Mas essas passagens estão no HD de minha memória.
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