quarta-feira, 22 de setembro de 2021

A tragédia das queimadas

                                                                       Josmar Verillo*

Neste ano em que as geadas castigaram a nossa região, fazendo não só as plantações, como as matas nativas secarem, as secas estão castigando como nunca as propriedades rurais, e as matas nativas da região. 

Os prejuízos aos agricultores são enormes, mas permanecemos vivos, vamos continuar lutando e com ações mais assertivas, com a ajuda de Deus, vamos recuperar os prejuízos. O que não se recupera mais é a quantidade de animais que morreram queimadas nessa tragédia.

 A imagem de uma macaquinha com o filhotinho no braço, mortos agarrados a uma árvore chocou os pessoas. Mas essa é apenas uma imagem das muitas que não vimos. Os animais ficam confusos com o fogo, e vimos imagens de muitas vacas mortas porque correram para o lado do fogo ao invés de correrem do lado contrário. Os filhotinhos de animais não conseguem andar rápido suficiente para escapar ao fogo, e morrem queimados, sem ter a chance de crescerem e manterem a diversidade de nossa fauna.

 A nossa região tem muito verde, e acaba sendo um santuário para animais, muitos dos quais estão em extinção. Vimos recentemente imagens da jaguatirica e da onça parda, que há muitos anos não se avistava. Os lobos guarás que são uma espécie em extinção tem aparecido com frequência.

 Nessa semana, à noite, um lobo guará solitário adentrou a recepção do Santa Eliza Eco Resort. Esses bichos são muito ariscos. Ele fez isso talvez como um pedido de socorro, pois estava faminto. É uma cena de partir o coração. 

Mas o mais grave de tudo é que esses incêndios, essa tragédia desumana, tem sido provocada pelo homem. Não há possibilidade de tantos incêndios serem iniciados em tantas áreas ao mesmo tempo. Há tempos o grupo que combate os incêncidos está desconfiando da ação de um incendiário atuando na região. E foram muitas as evidências do combate estar acontecendo em uma frente e logo em seguida outro fogo aparecia na margem da estrada. Precisamos identificar esse ou esses malucos psicopatas, com tendências demoníacas para que sejam punidos exemplarmente. Agora nesse instante presenciamos uma situação semelhante. Enquando a frente combatia  incencio de um lado da estrada, surgiu outro em local pouco provável de ter sido provocado por fagulha, ou efeito do fogo principal.

 Na esteira dessa tragédia, houve uma união muito grande de todos os produtores rurais da região de Ribeirão Bonito, Dourado, Trabijú, que colocaram todos os seus equipamentos para combater incêndios de vizinhos. As divergências que eventualmente existiam entre os vizinhos foram esquecidas e todo mundo atuou com um fim comum, ou seja, combater os incêndios.

 A atuação do Sindicato Rural de Dourado e da Prefeitura com a sua brigada contra incêncio foi também essencial para debelar grande parte dos incêncios, não medindo esforços, e passando muitas horas do dia e da noite nessa árdua tarefa. São heróis que precisam ser reconhecidos.

 Essa união precisa continuar, e todos os proprietários precisam dedicar mais recursos para o combate a incêncios, pois isso não vai acabar, e cada ano pode se tornar pior. Precisamos muito mais ações do que palavras. A mudança climática é uma realidade, e a cada ano que passa a nossa região recebe menor volume de chuvas.

 Precisamos pensar rapidamente nas seguintes ações:

1)      Expandir e equipar melhor as brigadas das prefeituras, com equipamentos potentes que consigam lançar jatos a grande distância.

2)      Proprietários rurais de acordo com os seus recursos, adquirir ou financiar equipamentos e tanques de maior capacidade, caminhões pipas, e tanques que possam ser puxados por tratores para locais em que os caminhões não consigam entrar.

3)      Construir aceros (falar com as autoridades ambientais, pois a atitude xiita que tem prevalecido só causa prejuizos) a inexistência de trilhas que pudessem transitar tratores com tantes teria evitado o espalhamento do fogo nas matas nativas. As prefeituras tem que fazer esse trabalho de coordenação com os orgãos do meio ambiente.

4)      Solicitar formalmente ao DER que mantenham as margens das estradas limpas, pois são nesses locais onde se iniciam a maioria dos incêndios, provocados por desavisados e criminosos.

5)      Montar algumas torres de observação, com sistema de comunicação ágil.

6)      Fazer uma grande campanha de comunicação com a população, mostrando os danos que esses incêndios causam inclusive com fotos impactantes da mãe macaquinha morta queimada com o bebê no colo.

7)      Seria importante fazer um filme da devastação das margens da rodovia daqui a São  Carlos para enviar ao governador, que nos tem atendido muito bem, para que ele destine recursos ao DER, e às brigadas de incêndio das prefeituras.

8)      Temos que contatar as usinas de região, e pedir um aumento significativo dos equipamentos que eles disponibilizam para combate a incêncio. Os recursos que eles tem disponibilizado são irrisórios diante das necessidades. As prefeituras de Ribeirão Bonito e Dourado podem atuar muito forte nisso, em conjunto com a AMARRIBO e com a UNIDO.  

 Estamos passando por uma situação dramática, nunca vista! Essas são apenas algumas medidas, mas existem muitas outras que podem ser tomadas de forma prática  simples. Não podemos deixar repetir o que houve esse ano.

 A União faz a força. Aprendemos muito com isso nesse episodio. Vamos deixar as nossas divergências de lado e vamos nos unir nessa causa, que é uma causa nobre. Salvar a natureza criada por Deus.

 *Empresário, proprietário rural, e presidente do conselho da AMARRIBO.

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