A melhor maneira de homenagear quem realmente vestiu a camisa em todos os sentidos é reprisar uma matéria que fiz com o Bebeto. Meus sentimentos pelo falecimento do guerreiro.
A Escola do futebol ribeirão-bonitense tem nome, Bebeto
O Blog do Ronco acompanhou a partida entre a equipe de Dourado e Ribeirão Bonito neste domingo(12) no Estádio Parque São Pedro em Dourado. Antes do jogo, nos vestiários, o técnico Bebeto já se mostrava impaciente. Entre ajudar um atleta a colocar a bandagem no pé e distribuir as camisas aos jogadores, Bebeto conversava com alguns de seus jogadores passando a eles o queria que fizessem durante a partida.
Num determinado momento reuniu todos em uma roda e iniciou a sua preleção. Incrível a capacidade do Bebeto em tocar fundo o emocional dos jogadores. Em nenhum momento ouviu-se termos que não fossem o incentivo ao jogo limpo. "Vamos fazer o que sabemos, jogar futebol", disse o veterano.
Durante o jogo, ao lado do campo, chamou a atenção daqueles que não atendiam à sua determinação, sempre com respeito ao jogador.
No intervalo, um dos atletas exaltado com o juiz e descontrolado emocionalmente, Bebeto deixou o atleta falar e esbravejar, a partir de então o que se viu, foi uma aula de como se posicionar frente as situações que surgem dentro das 4 linhas do campo.
Por essas e outras, Bebeto está no lugar certo, o professor que toda equipe precisa e gostaria de ter.
Abaixo a matéria publicada no BRM, publicada em 21 de agosto de 2011, com a assinatura do jovem jornalista Celso Luis Galo.
Esporte | Treinador bicampeão amador de futebol
Bebeto fala sobre a carreira e as conquistas pelo Ribeirão Bonito Esporte Clube
Celso Luís, de Ribeirão Bonito
Fotos: Celso Luís/BMR
Com humildade e amizade para com os atletas, Luiz Roberto Zacharias, o Bebeto, de 63 anos, conquistou dois títulos regionais de futebol amador, treinando o Ribeirão Bonito Esporte Clube: em 1988, pela Liga Araraquarense, e neste ano, pela Liga Jauense. Há 31 anos, ele é morador de Ribeirão Bonito e funcionário do Centro Esportivo Comunitário, onde recebeu nossa reportagem e contou detalhes de sua carreira como jogador e treinador.
Bebeto nasceu em Bebedouro (SP), e viveu por lá até os 22 anos. Ele começou a jogar futebol nas categorias de base da Internacional, time tradicional da cidade. Em 1967, passou a atuar na equipe principal. Foi neste ano que conheceu sua esposa Sandra, com quem tem seis filhos e cinco netos. Na passagem pela Inter de Bebedouro, o zagueiro conseguiu dois acessos, indo da terceira para a primeira divisão paulista em dois anos.
Após sair de Bebedouro, Bebeto defendeu o Guaíra, onde também conseguiu dois acessos, e o Orlândia, em passagem sem títulos. Em 1975, o atleta foi campeão da segunda divisão goiana, pelo único clube fora do estado de São Paulo em que atuou: a Jataiense, de Jataí (GO). “Foi a cidade em que eu fui mais feliz jogando futebol”, diz.
Ele ainda jogaria pelo Fernandópolis, sendo campeão da terceira divisão paulista. Foi lá, em 1980, que encerrou a carreira, por motivos médicos. “Tive uma lesão grave no tornozelo, sentia muita dor. Chegou a hora de eu parar”, pensava. Ele comunicou ao presidente do clube, que rebateu: “Você está louco?”, relata Bebeto. “Eu só parei por causa das dores no pé”, completa.
Estes foram os times em que Bebeto ficou por mais tempo e trouxe melhores recordações. Nos últimos anos antes de parar, ele ainda atuou por Ponte Preta, Rio Preto e Votuporanga, mas, por atrasos de pagamento dos salários, acabou se desligando rapidamente dos clubes. “Dessas passagens eu não gosto nem de lembrar”, afirma.
Após encerrar a carreira, Bebeto retornou à cidade natal, mas logo teve que deixá-la. Ele recebeu um convite de um parente, que morava em Ribeirão Bonito, para que viesse jogar um amistoso contra o Milionários, de São Paulo. As dores haviam acabado, e ele passou a vir jogar por vários finais de semana, até que se mudou para o município. “Meu cunhado insistiu tanto e eu acabei vindo para cá. Gostei daqui e fiz boas amizades”, conta.
A primeira conquista
Após alguns anos parado, o Ribeirão Bonito Esporte Clube voltou a disputar torneios regionais em 1988, pela Liga Araraquarense. “O Clodoaldo Bonani [presidente do time na época] e eu formamos o elenco. Tinham vários diretores que ajudavam, entre eles o Carlé [Antonio Carlos Galhardo, morto neste ano]”, lembra Bebeto. A equipe foi campeã invicta, derrotando na final o Vilares, de Araraquara, por 2 a 1, fora de casa, com dois gols de “Nega Véia”.
“Aquele time era bom demais, do goleiro ao ponta esquerda. Era imbatível”, afirma. O elenco, formado por uma base da cidade e quatro jogadores de São Carlos, é lembrado até hoje pelo treinador. Os titulares eram Betinho, Nelsinho, Inho, Demá e Bagudinho, Dé, Bebé, Régis e Edson, Edmo (“Nega Véia”) e Cação. Eram opções no banco de reservas: Corméia, Zildo, Henrique, Nenê, Branco, Fumaça, Vando e Faísca.
Na época, a equipe fazia treinos pesados, de terça a sábado, com o preparador físico João Carlos. O apoio dos torcedores e da cidade era maior do que hoje, segundo ele. “Foram quatro ônibus lotados para Araraquara acompanhar o jogo da final, fora os caminhões e carros. Nos jogos em casa, o estádio enchia. O semblante das pessoas mostrava que elas vinham com amor torcer por Ribeirão Bonito”, relata. “O prefeito Felipe Mercúrio deu três dias de ponto facultativo após o título, a cidade parou”, completa.
Bicampeonato
Após o título, Bebeto voltou a se envolver com futebol somente entre o final da década de 1990 e o começo dos anos 2000, quando trabalhou por seis anos na Escolinha de Futebol, junto com Marcos Ferreira, o Marcão. Após mais um tempo parado, um impasse no comando do Ribeirão Bonito E.C., neste ano, fez com que Bebeto se tornasse o treinador do time na Liga Jauense.
Primeiramente, ele dividiria o cargo com Pedro Maia, treinador do Força Jovem. Porém, Maia disse que não poderia mais, por motivos profissionais. Então, foi chamado Viola. Os dois comandaram o amistoso contra o Trovão Negro, em março. Mas Viola também não pôde continuar. Desta forma, restou apenas a Bebeto a missão de treinar a equipe, formada somente por atletas da cidade.
Questionado se, ao receber o convite, ele pensou que poderia ser campeão, foi enfático: “Não. Jamais”. Foi ao longo do torneio que o técnico ajeitou o time. “Nos primeiros dois jogos, foi mais ou menos. Fui conversando com os jogadores, unindo o grupo e eles foram campeões. Fui achando a melhor posição deles jogando, sem treinar. E estão todos de parabéns”, diz.
Nos títulos vencidos, Bebeto vê diferenças: “Em 1988 a gente tinha mais apoio, todo mundo vinha ao campo e torcia. Mas eu dou mais valor na conquista deste ano, pois tinham jogadores apenas daqui”, afirma. O treinador apontou a vitória contra Nova Europa, por 1 a 0, pela segunda semifinal, como a partida mais marcante do segundo título: “Eles se superaram, lutaram bastante. Nós precisávamos da vitória lá. Aquele jogo foi o mais emocionante”.
Após esta missão “mais que cumprida”, como ele mesmo diz, Bebeto vai continuar trabalhando, mas largará o futebol. “Quando os veteranos [sub-35] terminarem o torneio que estão disputando, não mexo mais com bola”, confessa. “Eu trabalharei até cansar, pois já estou aposentado”, diz. Depois, ele se dedicará à família. Família esta que tem muitos motivos para se orgulhar de Bebeto, que será sempre lembrado na história do esporte de Ribeirão Bonito.
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