terça-feira, 28 de abril de 2020

Relato de um médico, como tantos outros na luta do enfrentamento ao COVID 19

Paulo Vinícius está em Hospital das Clínicas da FMUSP. (Fonte: Facebook)
Neste último mês vi mais gente morrer do que poderia imaginar. Eu, colegas médicos, enfermagem, fisioterapeutas... Dia após dia se desdobrando para cuidar de vidas afetadas pela COVID-19. Infelizmente, acaba sendo o ponto final de muitas histórias. Provavelmente muito mais histórias que as dos números oficiais.
Faculdades de medicina, incluindo a USP, paradas. Grande parte dos residentes médicos do maior hospital da América Latina mobilizados para cuidar dos pacientes que chegam diariamente com o ar faltando. Parte deles vai pra UTI, onde passam dias com tubos em suas gargantas e, que mesmo dando o melhor cuidado, vão pouco a pouco definhando até o corpo não resistir. Isso sem conpanhia de família ou mais ninguém senão nós da saúde. Podia ser seu pai, sua avó, sua tia. Podia ser você.
Saí de casa para não oferecer risco a quem amo. Vivendo basicamente para se preparar para o próximo plantão. Raspei de novo o cabelo. Ter o rosto marcado por equipamentos de proteção. Levar bronca da enfermagrm (corretamente) por um descuido na hora de ver um paciente, podendo expor a mim e a outros ao risco de se contaminar . O condicionamento físico indo pro ralo. Ter a residência médica completamente impactado, afetando o quanto posso aprender. Sem sair. Sem ver quem gosto. Eu e milhares de outros profissionais da saúde se sacrificando para aliviar sofrimentos e tentar salvar vidas.
Isso para sair do hospital e ver gente passeando como se nada acontecesse. Ver notícia do pessoal indo no parque, na praia, comprando bolsa, chapeu ou qualquer outra coisa. Não é gente que se vê na situação de precisar sair senão corre o risco de passar fome. É gente egoísta. Gente cujo bem estar é mais importante que a vida do próximo. Gente que esquece que estamos numa crise que tende a piorar. Vai chegar uma hora que o ar vai faltar, mas as vagas e ventiladores também. Isso pois não se consegue pensar minimamente no coletivo. Eu espero estar lá para ajudar quem precisar, mas se continuar assim, não haverá esforço capaz de contornar o assombroso futuro que se aproxima.
Por favor, de condições para que nós e o mundo enfrentemos essa guerra. Fique em casa. Compartilhe essa ideia.

(Edição: esse post teve um alcance muito maior do que eu imaginei. Estou muito grato com todas as mensagens de carinho e reconhecimento, nao apenas a mim, que ainda tenho muito a aprender, mas a todos os colegas que diariamente estão na linha de frente. Isso não tem preço. É o que verdadeiramente nos motiva. Mais uma vez, muito obrigado!)
(E aos que perguntaram,não há nenhum problema em compartilhar o post )

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