quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Histórias que a vida conta....Morro Bom Jesus - Ribeirão Bonito

Cartão postal de Ribeirão Bonito - Morro Bom Jesus
                                                                                 Por: João Paulo Torrezan  Issa 
No início dos anos 50, o Governo do Estado de São Paulo iniciou a construção da Rodovia SP-215, que no trecho de São Carlos ao Obelisco (município de Dourado) é chamada de Rodovia Luis Augusto de Oliveira.  Tal rodovia, chamada por muito tempo de “estrada oficial”, veio substituir as estradas vicinais que ligavam Ribeirão Bonito a São Carlos e Dourado.
A vicinal, pelo próprio nome, é uma estrada de vizinhos, de forma que o percurso de Ribeirão Bonito a São Carlos era feito passando por várias fazendas, uma delas a Santa Lourdes, onde havia uma serra difícil de transpor em dias de chuva. Fora isso, havia dezenas de porteiras a serem abertas, para a passagem dos carros e caminhões.
Uma viagem de carro de Ribeirão Bonito para São Carlos durava cerca de duas horas.
O Brasil iniciava o modelo rodoviário de transporte, deixando para trás o velho, porém eficiente transporte ferroviário.
As “estradas oficiais” como eram chamadas, eram projetadas pelo DER (Departamento de Estradas de Rodagem) e executadas por grandes empreiteiras da época, contando com obras de arte, como pontes, cortes e aterros.
Primeiro vieram o traçado planejado e as respectivas obras de arte. Poucos anos depois chegou o tão sonhado asfalto para aquela rodovia.
A empreiteira que executou o trecho de São Carlos ao Obelisco foi a Azevedo & Travassos, empresa existente até os dias de hoje, apesar de transcorridos mais de 50 anos da construção desse trecho da SP-215.
Em muitas localidades, as obras foram de curta duração, pois a construtora contava com máquinas modernas para a época tais como as chamadas “TANAPUS” (moto scrapers, hoje em dia) além de potentes tratores de esteiras.
Porém dado à dificuldade em abrir o trecho que chamamos “serra de Dourado”, logo na saída de Ribeirão Bonito para aquela cidade, as obras ali se estenderam por um bom tempo devido a necessidade dos cortes realizados no basalto (pedra preta) que constitui o subsolo dos morros daquela localidade.

Dessa forma, um dos canteiros de obra da Azevedo & Travassos ficou por muito tempo nas proximidades de Ribeirão Bonito.
Como todos sabemos Ribeirão Bonito sempre foi uma cidade acolhedora e hospitaleira, de modo que muitos operários e administradores da obra criaram vínculos de amizade com os ribeirão-bonitenses.
Um deles se destacou na amizade com a cidade. O Sr. Álvaro Line Ceriliane, mais conhecido como “Pupo”, chefe de máquinas da Azevedo & Travassos. Tão grande foi a sua amizade com as pessoas de Ribeirão Bonito que, findo os trabalhos na região de nossa cidade e, antes que as máquinas fossem para outro local, o Sr. “Pupo”, com a concordância da Azevedo & Travassos, quis deixar um presente para Ribeirão Bonito.
O presente que resolveram deixar foi o desbravamento do Morro Bom Jesus, situado no centro da cidade.
Antes deste desbravamento o morro servia de pasto para cabras e vacas, de brincadeira de aventura para as crianças da cidade assim como de ponto de extração de pedras para muros e alicerces pelo Sr. Natalão.
No local onde o Sr. Natalão extraia as pedras ferro, é hoje a gruta de Nossa Senhora de Lourdes, logo no início da rampa que leva ao topo do morro.
O desbravamento deu-se em poucos dias. Máquinas possantes abriram a rampa de acesso ao alto do morro, além de criarem três terraços planos no topo da montanha.
Recebido, em 1955, o presente, ficou a pergunta entre os cidadãos ribeirão-bonitenses: e agora o que vamos construir em cima do morro?
Alguns pensaram em um restaurante, outros em um bar, mas ponderaram que alguém com uns goles a mais na cabeça, poderia machucar-se, ao descer tão íngreme rampa.
Então surgiu a ideia de construir uma capela dedicada a Nossa Senhora Aparecida, que do alto da cidade certamente abençoaria a toda cidade e a seus cidadãos.
Uma comissão foi montada, cujos nomes dos participantes estão estampados em placa na entrada da capela ali construída.
Uns dedicaram-se a arrecadação de recursos, outros ao projeto e alguns a execução da obra.
Dessa forma, depois de mais de seis anos de intensos trabalhos, em 1961 foi inaugurada a Capela de Nossa Senhora Aparecida, com grande festa, com direito discurso do saudoso ribeirão-bonitense José Blotta Junior e missa concelebrada pelos padres Casemiro Mikuki e Fernando Godoy Moreira.
 Anos se seguiram onde a festa da capela, realizada entre o final de novembro e o início de dezembro era um dos momentos altos na religiosidade dos católicos de Ribeirão Bonito, uma vez que o dia de Nossa Senhora da Conceição Aparecida é comemorado no dia oito de dezembro.
Os leilões, a rodinha de cavalinhos, a venda de bolos e guardanapos assim como o bar da festa arrecadavam recursos para a manutenção da capela, durante o ano que vinha pela frente.
Além da diversão, a capela sempre foi, antes de tudo, um local de fé. Muitas foram as oferendas deixadas por fieis em retribuição a curas de doenças e soluções de problemas, através da interseção da Mãe de Jesus. Braços e pés de cera, entre outras oferendas foram ali deixadas por muitos anos.
Muitos ribeirão-bonitenses e moradores de cidades vizinhas, em seus momentos difíceis, vão até aquela capela para pedir a benção e a interseção da Virgem Maria na solução de seus problemas.
Podemos dizer então, que trata-se, não só de um cartão postal da cidade, mas também um local abençoado por Deus.
Muitos foram os colaboradores na construção da capela, mas uma pessoa em especial, apaixonou-se por aquela obra e usou do conhecimento de toda a sua vida para fazer o melhor para aquela obra. Trata-se do Sr. Cesar Torresan, que participou de todas as etapas da obra e colaborou com seus conhecimentos de “ferreiro” para a construção de várias estruturas metálicas ali existentes.  Não podemos nos esquecer do saudoso “Canela” (Manoel Antônio da Silva), outro apaixonado pela capela e companheiro do Sr. Cesar em muitas empreitadas.
Outra pessoa que não podemos deixar de citar é o Sr. Antônio José Galdino(foto), que por anos a fio, cuidou das finanças da Capela, sempre em comum acordo com os párocos que passaram por Ribeirão Bonito, nos anos 60, 70, 80 e 90.
No final dos anos 90 a capela e seus entornos encontravam-se com poucos recursos para a sua manutenção.
Padre Morales, a pouco chegado em Ribeirão Bonito, solicitou ajuda de ribeirão-bonitenses que moravam fora da cidade, para que se organizassem em uma associação com a finalidade de ajudar na manutenção da capela, além de zelar por outros aspectos da cidade.
Nascia aí a AMARRIBO, que cuidou da capela por vários anos, tendo se destacado o Sr. Paulo Ianhez, que assim como o Sr. Cesar Torrezan, apaixonou-se por aquele lugar e cuidou daquilo como fosse a sua casa.
Hoje a capela e seus entornos estão a cargo da paróquia do Senhor Bom Jesus da Cana Verde, sob o comando do competente e entusiasmado Padre Morales, juntamente com a Associação Cultural e de Promoção Social Casimiro Mikucki, hoje presidida pelo também paroquiano Marcos Antonio de Freitas.
Novos desafios impõe-se a este verdadeiro cartão de visitas de Ribeirão Bonito, tal como o atendimento das regras ambientais exigidas pela promotoria de justiça.
Não vamos deixar que essa estória de fé, desafios e paixões, pereça sob o jugo dos gestores ambientais e da justiça.
Não basta relembrar o passado. Precisamos cuidar do presente e apoiar nosso dinâmico Padre Morales a vencer os desafios hoje impostos a tão estimado local de visitação em nossa cidade.
Agradecimento pelas  fotos cedidas pelo amigo: Arthur Neto

6 comentários:

Português Online disse...

Lindo texto!

Ney Eduardo Torresan Merheb disse...

Belo artigo, bela história. Muita saudade desse local pois na minha infância foi palco de muitas brincadeiras. Muitas recordações da festa da capela onde minhas tias Helena, Celina e Leite e ficavam nas barracas vendendo doces e quitutes deliciosos que elas preparavam. Bons tempos, muitas lembranças. Parabéns ao primo João e demais que colaboraram para contar essa linda história da querida Ribeirão Bonito.

Anônimo disse...

Agradeço ao Sérgio Ronco pela publicação do artigo sobre Morro da Capela, escrito, a pedido de um dos integrantes da Associação Cultural e de Promoção Social Casimiro Mikucki, no ano de 2015.
O artigo foi abrilhantado com as fotos do Arthur Neto e ilustrações, todas inseridas com muito bom gosto e competência pelo Ronco.
Peço desculpas a várias pessoas que fizeram parte dessa estória e que não foram citadas no meu artigo, seja por causa da concisão necessária ou por causa do não conhecimento de alguns fatos que fizeram parte dessa estória tão bonita de nossa cidade.
João Paulo Torrezan Issa.

Ana Maria/ Dourado disse...

Que maravilha de matéria. Que maravilha de texto!

Unknown disse...

Parabéns, João, pelo belo texto. Muito interessante cada detalhe desta história!

Unknown disse...

Linda história de nossa Capela,acompanhei está trajetória.Muito orgulho desta cidade que amo muito!