DROGAS: Se você não tem tempo ou não quer ler a entrevista abaixo, poderá estar perdendo a oportunidade de saber como um ex-drogado deixou o consumo das piores drogas existentes. E mais, o que os pais devem fazer quando descobrem que o filho está envolvido.
João Blota
João Blota esteve no inferno das
Drogas, disse já ter experimentado praticamente todas que existem na América Latina: Cocaína,
crak, maconha, LSD, cola, benzina, microponto, cristal. Chegou a ferver fita
magnética, pois diziam dar barato. “Deu barato, vem pra dentro”, disse João.
Livre das drogas, hoje o
empresário bem sucedido doa parte do seu tempo ajudando àqueles que necessitam
e que estão no caminho em que ficou durante anos. João confessa que foi um
verdadeiro milagre estar vivo e sem sequelas. Perguntado quem o tirou das drogas, repetiu
várias vezes: Deus!
João Blota recebeu convite para fazer palestra em La Paz- Bolívia e participou de um documentário que
será exibido na Colombia e outro nos EUA/ Miami. Recentemente participou do programa Fantástico da Rede Globo. Blota faz palestra por todo o país de forma voluntária.
O prefeito de Dourado Juninho
Rogante falou ao Blog do Ronco na semana que passou que vai entrar em contato
com o João para que possa dar continuidade ao projeto de palestras nas escolas.
Em Ribeirão Bonito, apesar do contato com a administração passada, à época não houve
interesse por parte do prefeito.
João Blota concedeu entrevista ao
Blog do Ronco no último sábado(7), em Dourado.
Blog do Ronco: Certa vez você
falou que poderia blindar uma cidade do porte de Dourado ou Ribeirão Bonito,
com relação ao tráfico de drogas, como tirar o traficante dessas cidades?
João Blota: Não é preciso tirar,
o traficante sai, você não vai tirar ele. A partir do momento que exista um
posicionamento do poder público, no caso a prefeitura, dos comerciantes, e da população, muda
tudo. Todos precisam entender que a droga faz parte do dia-a-dia das pessoas. A
droga na realidade é uma dor humana. Quando estou com dor de estômago vou a
farmácia e compro um remédio para aquela dor. Quando o sujeito está com dor na
alma, a droga tira você do seu estado natural o mais rápido possível. A hora que você
coloca luz em cima do problema, acabou o problema. Se todo o comercio se unir,
se uma boa parte da sociedade se unir, se o poder público abraçar a causa,
acabou o problema. Só que tem que querer fazer. Não existe um olhar institucional
que engloba a maioria dos problemas de uma cidade. Ronco, quem não quer acabar
com o problema é porque existe conivência ativa ou passiva. Ou o problema não é
meu, deixa rolar...ou eu tenho interesse nisso aí.
João Blota: Eu sou a favor pelo
seguinte, ele tomou uma medida ousada de enfrentamento ao tráfico. As pessoas estão
julgando ele hoje em São Paulo porque elas querem um salvador da pátria, e cada
um acha que ninguém tem a obrigação de fazer a sua parte, e joga tudo nas
costas do prefeito. O Dória deu o primeiro passo. O poder público não vai pelo
caminho da prevenção, não vai pelo caminho da educação, da informação é a única
coisa que nos liberta, é isso. Por que hoje ninguém usa mais cigarro, ou poucos
usam? Chama-se informação! Por que as pessoas hoje usam preservativos?
Informação! Se não tem informação, não tem resultado.
Blog do Ronco: Você tem novos
projetos?
João Blota: Eu estou fazendo um programa de capacitação de pais e professores. O professor é uma peça
importantíssima nesse jogo. O primeiro termômetro de detecção de droga é o
professor.
João: Muito mais, os pais são os
últimos.
Ronco: Quem na sua casa descobriu
que você estava usando droga?
João: Sinceramente? Ninguém!
Minha mãe soube porque alguém falou para
ela que eu estava num estágio lamentável. Minha avó desconfiou, mas logo
faleceu...ela desconfiou...O usuário de droga ele esconde Ronco, porque é dor.
Ronco: A droga é gostosa?
João: Melhor coisa do mundo. Eu
falo isso em palestra para a molecada. Você sabe de alguém que gosta de comer
cocô de cachorro? E cocaína? E maconha? E crack? É um prazer indescritível. E
esse prazer é o que o cara busca. Volto a repetir: o que falta hoje é
informação. Não informação mentirosa(sobre a droga, que ela não é gostosa).
Quando você está com colesterol você toma medicamento para baixar o nível de
colesterol, tem que diminuir e fazer exercício, não é isso? Você não vai deixar
de comer churrasco, não é? Pois então, existiu informação sobre o que fazer.
Ronco: Você ficou internado
várias vezes e voltava a consumir drogas. Sua mãe, sua avó, seu avô fizeram de
tudo. Se você não tivesse força de vontade você não teria saído dessa. O que
realmente fez você parar de consumir drogas?
João: Deus! Deus! Deus Ronco!
Você quer a real? Estou te falando como amigo: Deus! Sem Deus você não chega a
lugar nenhum. E Deus não está dentro da igreja universal, da presbiteriana, da
católica, do crente, do padre...ele mora dentro da gente...se você não admitir que
ele está dentro de você, você não sai disso!
João: Não ! Zero! Estou curado!
Falo isso contra a medicina, estou curado!
Ronco: Se eu te oferecer droga
agora, você diz não, não quero e boa?
João: Primeiro que se alguém me
oferecer eu vou dar um cacete, para começar a história...no meu caso estou
curado...as pessoas não querem ouvir isso...tem cura, cara! Existe cura, cara! Só
que a cura não é um remédio não...a cura depende de uma série de coisas, que
faz a busca interior.
Ronco: Qual a importância da família
nesse processo?
João: Você já ouviu falar de
Umbunto? Umbunto é uma tribo africana. Quando a pessoa nasce, tem o nenenzinho,
eles levam o nenenzinho até o centro da tribo, e a tribo inteira em volta dessa
criança, canta uma música, festejam. Quando a criança tem datas importantes na
vida dela, adolescente, casamento, aniversário..a tribo sempre faz esse ritual da importância dessa pessoa da comunidade. Sempre! Se une em volta da criança e
canta a música. E quando a criança faz uma merda bem grande, ou quando um
adulto faz, eles levam a criança ou o adulto para o centro da tribo e cantam de novo. Sabe
porquê? Por que o importante é saber de onde você veio e para onde você vai, é consequência
de onde você veio. É isso que é importante e é
isso que a família faz, te dá referência de onde você veio. E quem sabe de onde
veio, sabe para onde vai, mesmo que estiver perdido, sabe para onde voltar.
Quem não tem referência, não tem rumo.
João: Vou te falar uma coisa
interessante, preste atenção: O cérebro, ele te engana. Nosso cérebro sempre
nos engana. Ele pode te enganar em número, pode te enganar no visual, pode
te enganar no olhar, achar que era uma coisa e não é. Olhar para a cara de uma
pessoa e desconfiar que ela está pensando alguma coisa de você, sem você
perguntar..Agora teu coração nunca te engana, esse não engana nunca, Ronco. A
única coisa que não engana a gente nessa vida é o coração. Teu coração apontou,
segue! E eu falo para você, a família é o coração. Se você afastar o teu filho,
se você apontar o dedo para o seu filho, se colocar o filho pra fora de casa,
se você achar que com a violência e com embate, vai curar alguma coisa,
definitivamente, não vai! A partir do momento que você abraça o teu filho,
trás ele para perto, e diz: vamos juntos sair dessa, a coisa muda. Só que não
sai da noite para o dia, é uma luta...é uma luta gigantesca que precisa ser
guerreada. Tem gente que sai ferido, tem gente que sai muito machucado, tem gente que
não volta. Não existe certeza de vitória, existe chances que precisam ser
batalhadas. O que é o meu trabalho? Eu ajudo as pessoas a criar essa esperança
na luta, porque tem que ter a esperança, mas não existe uma certeza de vitória.
Agora a certeza que eu tenho, é de que quem tiver informação, está livre. Está
livre para escolher entre o sim e o não.
João: Quase impossível(pelo fato
do João ter passado por um processo violento de consumo de drogas, das mais viciantes
que existem). Eu não acredito que estou aqui. Por isso que te falo, não existe
uma regra nesse jogo. As pessoas acham que vai existir uma fórmula matemática
para que você consiga resolver o problema, esse não é um problema matemático.
Ronco: Você tem amigos que não
conseguem sair das drogas?
João: Não! Todos que eu conhecia
ou estão mortos, ou estão presos....se você olha para a situação de onde vim
que fumava 40 pedras(crak) por dia, de uso extremo de drogas, está totalmente
debilitado, totalmente arrebentado, tá? É difícil sair de onde estava,
ileso. Eu gostaria de entrar numa cidade e falar: “Aqui não tem(drogas). Aí falam,
mas isso é impossível. Eu pergunto: quem falou que é impossível? Não é
impossível mesmo!
Ronco: Dourado pode? Ribeirão
Bonito pode?
João: Qualquer cidade que tenha
vontade política, e clareza de pensamento da população, pode!
João: Nem passava pela minha
cabeça. Essa hipótese era remota, ou melhor, nula. Inexistente!
Ronco: Você queria continuar
naquela vida?
João: Eu nem sabia onde estava mais.
Estava perdido no mundo. Por isso que digo, o único caminho certo que temos, é
o caminho de entrada. A porta de entrada eu sei onde é, eu sei como é. Os
primeiros passos eu sei como são. Para a saída existem 4 portas, e você só
enxerga 3: Clínica, cadeia e caixão e a quarta você não enxerga, e só com ela que você pode sair e é difícil de achar, chama-se coragem. Três portas você enxerga, e a
quarta está dentro de você. O meu trabalho é mostrar duas portas, a da entrada
e da coragem para sair. Esse é o meu trabalho.
Ronco: Qual a mensagem que você
deixa para a criança, para o adolescente que está no mundo das drogas?
João: Droga, não vale a pena!
Essa é a mensagem! E quando falo isso, eu não estou conduzindo as pessoas,
estou acompanhando as pessoas. Cada vez que você conduz alguém, você impõe uma
verdade absoluta tua na cabeça de alguém. Quando você conduz, nós caminhamos
juntos. E o caminho para sair de qualquer problema, é caminhar juntos. Quando falo
para o garoto, droga não vale a pena, é diferente de falar: não use drogas. É
diferente de falar, diga não às drogas, é diferente de dizer que drogas vão te
matar. A droga não vale a pena. Se se alguém perguntar, baseado em que você
fala isso, eu digo, baseado na minha história.
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