O QUE AMO - O Caminho da Serra -
Entre Dourado e o Bebedouro
O caminho da serra contorna sua
aba estreita e de íngremes ladeiras que, de um lado, margeia o precipício onde
o mato cresce velando pelos viajantes. Do outro lado, era a estrada
dos boiadeiros que só se galgava a
cavalo ou a pé Hoje, caminho extinto.
Apesar do perigo e esforço que
fazia naquele trecho, eu gostava de me ver debaixo do sombreado que da serra
debruçava compondo uma furna pelos ares dos galhos que uniam as margens sob o
caminho. Onde a luz peneirava tochas encantadas ou tênues os raios solares
brincavam e reluziam qual pirilampos vagando através das rampas verdes e
compactas onde o orvalho escondia seus brilhantes.
Tínhamos que ser previdentes
pois, entrecortando o espaço surgiam, às vezes, bichinhos como lebres ou sapos
saltitando que nos assustavam e, principalmente, aos
cavalos que refugavam espantados.
Que mundo lindo eu descobria por
vergônteas surgirem confusos cachos serpenteando flores a expandirem agrestes
perfumes ouvia-se, ali, o rumor da brisa e lânguidos pios a arrulhar na mata.
Às vezes, através da abóboda das árvores surgiam a ideia de um segundo céu que se aflorava quais estrelas a
faiscarem todo seu ouro pelas esvoaçantes coroas de suas copas.
Que mundo de ternura descobria
então no doce olhar dessa iluminação sagrada que a nos espreitar parecia querer
guiar e defender dos escombros que se apresentavam quase noturnos.
Apesar de poéticas ladeiras, nos
inspiravam o receio das ciladas que podiam surgir, respirávamos com desafogo ao
terminá-las.
Hoje, o abandono assola esse
trecho da estrada onde se perdeu um pedaço de minha infância na garupa de um
majestoso cavalo pampa e, a cingir-me na cintura de papai, quando ia ou voltava
da escola.
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