terça-feira, 5 de maio de 2015

Pedroca, o exemplo a ser seguido

A bela história de Pedro Luiz Dias Aguiar
Pedro Luiz Dias Aguiar - Pedroca

Sergio Ronco 
Carinhosamente conhecido por Pedroca, descendente do bandeirante Fernão Dias, paulistano de nascimento e douradense de coração, diz que acha bonito o carinho que as pessoas têm com a chamada terceira idade, mas nega ter chegado a ela  mesmo aos 85 anos. 


A história do Pedroca tem ligação direta com o campo. Nos anos 50 herdou um bom pedaço de terra, perto de 600 alqueires, mas não parou por aí, adquiriu com outros sócios mais 500 alqueires. A maior parte delas localizadas em Dourado, onde está a Fazenda Bela Vista, hoje Hotel Fazenda.


A Fazenda Bela Vista em Dourado além de sua beleza natural, guarda alguns documentos da história do Brasil. Entre eles, uma carta escrita de próprio punho por D. Pedro II, que foi o segundo e último monarca do Império do Brasil, tendo reinado o país durante um período de 58 anos. A carta foi endereçada ao  Ministro de seu governo, Pedro Luiz Pereira de Souza(foto ao lado), que vem a ser bisavô de Pedro Luiz Dias Aguiar, o Pedroca, proprietário da Fazenda Bela Vista.



Nessa fazenda, basicamente plantava-se café. Com a crise de 1929, parte do café foi erradicada dando lugar ao algodão. Pedroca lembra com tristeza quando o governo  enviava equipe para a erradicação do café. A cada três sacas do produto, uma era queimada.  "isso acontecia no vilarejo de Trabiju", diz Pedroca.  Hoje, Trabiju é emancipada a município.
Registro dos alunos da Escola com sede na Fazenda bela Vista de Dourado


Um pouco de café, algodão e o novo investimento: gado leiteiro, eram então, as novas atividades da fazenda. “Chegamos a produzir 1.500 litros de leite por dia com um dos melhores rebanhos da região, diz Pedroca. A Bela Vista foi experimentando de tudo: Arroz irrigado, milho, sorgo, gado de corte. Com todo o movimento que tínhamos, a conta nunca fechava no final do mês”, disse
Sede da Fazenda Bela Vista

A persistência na área agrícola e pecuária durou até o dia em que hospedou um amigo na sede da propriedade, em 1982. Ouviu do amigo uma sugestão para que transformasse a Bela  Vista em hotel. Na tentativa de continuar no campo, aceitou a ideia do amigo colocando um pequeno anúncio num jornal de grande circulação. 

Certo dia ligou o primeiro pretendente que acabou por fechar por telefone sua estada na Bela Vista. “Não tinha estrutura de hotel, o jeito foi ceder o meu quarto, o melhor da casa para o visitante”, relata Pedroca. 

Parece que o primeiro hóspede lhe deu sorte. Hoje a estrutura da Bela Vista dispõe 10  chalés e 7 apartamentos que são disputados pelos seus tradicionais clientes que se tornaram seus amigos.
Jorge Aguiar, Pedroca e José Reis 

Um sonho que perseguia o fazendeiro de fala mansa e contador de muitos “causos” era um dia percorrer parte do país no lombo de um cavalo. E não é que o convite surgiu? Aos 60 anos, Pedroca juntamente com seu irmão Jorge e seu campeiro José Reis partiram para um grande desafio que foi a cavalga da batizada de “Projeto Brasil 14 mil”, organizada por um amigo, o Sebastião Malheiro. 
Jorge Aguiar na frente seguido por José Reis e Pedroca - Chapara dos Guimarães

No lombo de cavalos da raça Manga Larga Marchador, rumaram de Dourado para São Paulo e de lá para o extremo sul do país, Chuí. A volta foi para o extremo norte, Oiapoque, chegando de volta a São Paulo, amarrando a tropa no Parque da Água Branca.

Na partida da capital, Zé Reis ouviu duas mulheres na rua: “São esses os cavaleiros que vão cruzar o país a cavalo? Três velhos que devem estar mijando nas botas. Duvido que consigam sair do estado"... A marcha durou dois anos e 45 dias.

Pedroca completou 60 anos durante a cavalgada. Os três sessentões cumpriram essa façanha que acabou indo parar no Guinness Book , livro dos recordes como prova de resistência e esforço, não só dos cavaleiros mas dos cavalos também.


Nesse percurso 1.080 trocas de ferraduras e 60 mil kg de ração foram consumidos pela tropa composta por 6 animais. Os 14 mil km previstos no início do projeto viraram 19.300km, quando os cavaleiros fincaram as bandeiras de São Paulo, do Brasil e de Dourado no Parque de  Exposições da Água Branca, após terem passado por 20 Estados, Distrito Federal e 372 municípios. 
José Reis, Pedro e Jorge Aguiar

Quem pensou que o Pedroca fosse pendurar os arreios, enganou-se. Em 2004 Pedroca e Jorge participaram de mais um projeto: “O Caminho do Ouro”. Percorreram 1.650km a cavalo na rota do Bandeirante Anhanguera que saiu para o sertão em busca do ouro, em Goiás. Desta feita o percurso consumiu 60 dias de cavalgada. 
Sebastião Malheiro, Telma malheiro e Pedroca

Em 2013, novos desafios aguardam o  Pedroca.  Acompanhado de Sebastião Malheiro Neto e sua esposa, a amazona Telma Somenzari Malheiro, juntos, saíram do Parque do Lago, em Dourado no dia 1 de maio no projeto que levou o nome de "Expedição Velho Chico", na qual previu uma marcha de resistência de mais de 3 mil km, atingindo a Serra da Canastra, onde fica a nascente do Rio São Francisco, seguindo sua bacia hidrográfica até a Foz no Atlântico, entre Sergipe e Alagoas, chegando em meados de  de setembro de 2013.
A comitiva completa contou com três cavaleiros e seis animais, sendo duas éguas Manga Larga Marchador e duas mulas filhas de éguas Mangalarga e Mangalarga Marchador, além de toda a equipe de suporte. O projeto teve o acompanhamento da equipe do professor Dr. José Correa Lacerda da UNESP de Jaboticabal, fazendo estudos científicos dos parâmetros físicos dos animais antes e durante a expedição.
São Paulo à Brasília 

Em 2015, Pedroca arreou novamente o seu cavalo predileto e junto com Sebastião Malheiro e sua esposa Telma Somenzari Malheiro, saíram de São Paulo rumo a capital federal, em Brasília. Chegando na cidade dos políticos, percorreram a Esplanada dos Ministérios, o Congresso Nacional, parando para fotos junto ao Palácio do Planalto, onde foram recebidos por autoridades. O passeio durou 35 dias.  "Eu tinha que levar uma placa que encontrei em um ferro velho. Essa placa foi uma homenagem ao JK quando inaugurou um hotel na Ilha do Bananal. Levar de carro não tem graça, levei à cavalo"

“Sempre levei uma vida saudável, bebida só socialmente, nada de farras nem exageros”, diz Pedroca para  explicar sua energia e disposição. Hoje, aos 85, Pedroca acorda todos os dias às 5h30, toma seu café e acompanha os hóspedes nas cavalgadas matinais. 
Pedroca 


Não espantem se o Pedroca disser que ainda não pendurou as tralhas, pois disposição e saúde, não lhe faltam. Atualmente viaja 50km até a cidade vizinha de São Carlos onde frequenta uma academia praticando exercícios de várias modalidades.

Antes de dizer que está cansado e que nada vale a pena, converse um pouco com o Pedro Luiz Dias Aguiar que completou em 2018, 85 anos. 

Jornal Agosto/ Blog do Ronco
Texto e Fotos: Ronco e Divulgação
Matéria atualizada em janeiro de 2019

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