Excesso de ministérios e cargos comissionados só serve para abrigar a
base aliada e revela a urgência de uma reforma administrativa, afirmam
analistas. Brasil tem mais ministérios que EUA e Argentina juntos.
A presidente Dilma Rousseff anunciou em 24 de junho um pacto com cinco
medidas para atender às principais reivindicações da onda de protestos
que recentemente tomou as ruas no Brasil. Entre elas está a
responsabilidade fiscal nas contas públicas das esferas federal,
estadual e municipal.
Mas especialistas ouvidos pela DW Brasil defendem que o governo federal
pode começar "cortando na própria carne", ou seja, fazendo uma reforma
administrativa que simplifique a estrutura do Executivo.
O número de ministérios e secretarias com status de ministério no Brasil
– ao todo são 39 – é muito maior do que em países como Alemanha (14) e
Estados Unidos (15), ou mesmo vizinhos como a Argentina (14) e o Chile
(22).
"Essa forma de gestão caminha na contramão da história e de tudo aquilo
que seria o ideal para a administração pública, não só no Brasil, mas em
qualquer país. A criação desses ministérios é uma forma de abrigar a
base aliada do governo e acelera ainda mais as distorções dentro da
máquina pública", afirma José Matias-Pereira, professor de administração
pública da Universidade de Brasília (UnB).
Gil Castello Branco, fundador e secretário-geral da associação Contas
Abertas – organização não governamental que se dedica a fiscalizar a
execução do orçamento do governo federal –, diz que, por ter sugerido um
pacto fiscal, a presidente tinha a obrigação de começar "cortando na
própria carne".
Protestos levaram milhares de pessoas às ruas de cidades do Brasil e no exterior
"Seria não só uma medida de impacto econômico-financeiro, mas
também de impacto moral, pois haveria reflexos nos estados e municípios.
Seria importante que ela passasse uma mensagem de contenção de
despesas, a começar por esse absurdo de governar com 39 ministérios.
Acho uma discrepância quando ela [Dilma] fala em pacto fiscal sem dar o
pontapé inicial", frisou Castello Branco.
Além do alto número de ministérios, o governo federal vivencia um
aumento também no número de cargos de direção e assessoramento superior
(DAS) – os chamados "cargos comissionados", ou CCs. Hoje, no governo
federal, eles são cerca de 22.400 – um recorde desde 1997, quando
iniciou-se a curva ascendente, de acordo com o Boletim Estatístico de
Pessoal, elaborado pelo Ministério do Planejamento.
Inchaço da máquina pública
O inchaço do governo federal para acomodar a base aliada iniciou-se no
primeiro governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006).
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1999-2002) tinha 24
ministérios, número que pulou para 37 no final do governo Lula. Hoje,
Dilma Rousseff tem 39 pastas. No governo do ex-presidente e atual
senador Fernando Collor de Mello havia 15 ministérios e mais 13
secretarias ligadas à Presidência.
Para fazer funcionar esses ministérios, o contingente de servidores
saltou de 810 mil em 2002 para mais de 985 mil funcionários públicos em
2012. O custo para os cofres públicos aumentou de 60 bilhões de reais
para quase 157 bilhões de reais, segundo dados do Ministério do
Planejamento.
Matias-Pereira, da UnB, explica que os custos de criação de um novo
ministério são pouco significativos, mas, no ano seguinte, ele entra na
rubrica do orçamento federal e novos cargos públicos são criados.
"Quando você tem uma gestão pública inadequada, penaliza a população não
só pelas despesas desnecessárias, mas também com a oferta de um serviço
público de baixa qualidade", afirma.
Sistema político engessado
Congresso Nacional, em Brasília: partidos políticos da base aliada querem cada vez mais espaço no governo
Josmar Verillo, vice-presidente da Amarribo, braço brasileiro
da ONG Transparência Internacional, diz que Dilma é refém do sistema
político brasileiro. "Esses 39 ministérios são para repartir o governo
entre os partidos políticos [da base de apoio] e um desperdício de
recursos públicos. É necessário uma reforma do Estado, pois o número de
ministérios deveria ser reduzido drasticamente para muito menos da
metade, para no máximo 15 ministérios que realmente funcionem, além de,
no máximo, cerca de 600 cargos de confiança."
Ricardo Carlos Gaspar, professor de economia e especialista em políticas
públicas da PUC-SP, relativiza o problema. Ele argumenta que o Estado
brasileiro assumiu um papel estratégico que é fundamental para o país, o
que justifica em parte o aumento da máquina pública.
"Esse inchaço da máquina pública é relativo, porque na medida em que os
investimentos em saúde e educação aumentaram nos últimos anos, é natural
que, para a execução e manutenção desses serviços, sejam necessários
recursos humanos adicionais. Mas isso não quer dizer que não haja
desperdício a ser contido", afirma.
Ele afirma que o inchaço se dá em todas as esferas de governo – federal,
estadual e municipal –, independentemente da orientação
político-ideológica. "Esse desperdício inclui também o número de pastas
exageradas, além das pastas que têm atividades sobrepostas e não muito
bem definidas."
2 comentários:
Porque não 40 ministros? Um a mais e lembraria Ali Baba e os 40 ladrões.
Dilma refém do sistema político brasileiro?
Essa senhora faz parte do governo desde 2002.
Ela encarna o próprio sistema político brasileiro.
Décio
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