Monte Alegre lá deixei, nunca mais esquecerei, suas flores
em seus jardins, viverão prá sempre em mim... Tal como no hino do importante
vilarejo em Piracicaba, Monte Alegre marcou a vida de muitos que lá moraram e
conviveram com aquele pedaço de chão abençoado.
Monte Alegre - Piracicaba
Nesta sexta-feira Santa resolvi
voltar a Monte Alegre, em Piracicaba, após mais de 40 anos. Explico: Meu avô Caetano
Ronco trabalhou na Usina Monte
Alegre(UMA), por um período longo de sua vida, acabando por se aposentar na
própria Usina. Por lá criou seus 12
filhos. Meu pai e dois tios também iniciaram suas vidas de trabalho na UMA.
As lembranças de Monte Alegre não
poderiam ser melhores, uma vez que várias férias escolares, quando criança,
passava junto com meus tios, desfrutando da beleza do local, a amizade dos que
ali moravam, e usufruindo de toda a estrutura montada pela família Morganti,
donos da Usina monte Alegre, para o bem estar de seus empregados.
Após chegar em Monte Alegre,
confesso que me deu um nó na garganta, fruto de uma mistura de saudades, saudosismo, alegria e
de certa forma tristeza também.
Acho que não é difícil compreender
esse tipo de reação, após 40 anos de boas lembranças, e é claro, saudades de
meus pais que não estão mais conosco.
Monte Alegre é um vilarejo que
abrigou famílias, na sua maioria trabalhadores de origem italiana, que com os
seus braços fortes ajudaram na construção da gloriosa Usina Monte Alegre.
União Monte Alegre comemorará este ano 90 anos de fundação
Seu Proprietário, o Comendador Pedro Morganti, coordenou o crescimento do vilarejo de forma ordenada. Morganti queria que seus funcionários trabalhassem com prazer. Para tanto montou em Monte Alegre uma verdadeira cidade, para que nada pudesse faltar aos seus colaboradores e empregados. As casas de colonos eram de boa qualidade, construídas com tijolos, telhas de barro, além de instalação elétrica. Tinham água tratada e esgoto. Assis Chateubriand, o magnata das comunicações no Brasil, enxergou no bandeirante da toscana, Pedro Morganti, a capacidade e visão para os negócios.
Como senhor do engenho,
capacitado e consciente, Pedro Morganti tinha em mente que o trabalhador
deveria trabalhar sim, mas com toda a estrutura necessária, com certo conforto e a recreação não poderia faltar.
A estrutura de Monte Alegre
contava com ambulatório médico com sala para pequenas cirurgias, centro de puericultura, farmácia, gabinete
dentário, armazém, cinema, campo de futebol dos mais modernos para a época. Foi
alí que surgiu o fabuloso jogador Baltazar.
O Clube local recebia orquestras
famosas vindas da cidade de São Paulo para abrilhantar os grandes bailes.
Em 21 de janeiro de 1927, foi
fundada a Escola Marquês de Piracicaba. Pedro Morganti contratou professores de
fora para que pudessem lecionar aos alunos, filhos dos trabalhadores. A Escola
chegou a ter em seu quadro, 400 alunos em dois turnos. O ensino da Marquês era
de primeira qualidade.
Católico, Pedro Morganti construiu em 1936, próximo à sede da fazenda, uma capela onde todos os funcionários tinham acesso. Morganti fazia questão que a comunidade participasse das missas, rezadas na Capela que levou o nome de São Pedro e que teve a pintura interna assinada por Antonio Volpi, ainda desconhecido como artista da pintura.
A Usina possuía 12 locomotivas, cada máquina levava o nome de um membro da família Morganti. Três delas, foram construídas nas oficinas da própria UMA, por João Bottene e sua equipe.
Monte Alegre hoje tem um administrador. Trata-se de Wilson Guidotti Junior(Balu), que aos poucos está restaurando os prédios ali existentes, com a ajuda da Prefeitura de Piracicaba. O mais difícil parece estar na restauração do prédio da própria Usina Monte Alegre.
Sergio Pelegrini
Nesta sexta-feira, dia da visita
a Monte Alegre, após bater mais de 300 fotos, fui ao encontro de um morador
antigo do vilarejo. Trata-se de Sergio Pelegrini, que trabalhou para os
Morganti de 1942 a 1969, quando a Usina e todo o grupo da Refinadora Paulista,
de propriedade da família Morganti, foi vendida para José da Silva Gordo, um
dos donos do então Banco Português do Brasil.
Para não perder uma só palavra do
Sergio, abri o microfone de um pequeno gravador. Tive a impressão, de que o Sergio precisava contar a história
para alguém de forma ordenada e emotiva.
O Relato
“Eu conheci o Comendador Pedro
Morganti, porém tive mais contato com dona Joaninha, a esposa de Pedro
Morganti, uma verdadeira santa”, disse Sergio.
Nesse momento, percebí que os
olhos do Sergio ficaram marejados. “Dona Joaninha era a mãe de nós todos, quando
ela sabia que alguém estava doente na família, sua preocupação não era
diferente de um filho seu” disse.
Muitas histórias foram
apresentadas pelo funcionário que dedicou parte de sua vida na tarefa de
refinamento do açúcar da marca Tamoyo, produzido pela UMA, sempre com a mesma
emoção.
Sergio disse que certa vez, Lino
Morganti, filho de Pedro, quis saber de onde vinha um certo barulho de pessoas
conversando, e que sempre isso acontecia aos domingos, quando Lino estava na
casa sede de Monte Alegre.
Sergio disse que um secretário de Lino, descobriu que se tratava de
funcionários que se reuniam na barranca do Rio Piracicaba para pescar e conversar. Sabendo disso, no
local da pescaria, Lino mandou que construísse um pequeno clube
com churrasqueira, barracão para refeições e área de lazer para crianças. E alí
estava formada a “Teixeirada”, como ficou conhecido, mais um lugar de recreação
para funcionários da usina.
Sergio lembrou o nome de todos os filhos de Pedro Morganti e alguns de
seus netos, especialmente os filhos do Lino. Uma das filhas de Lino a Renata,
foi muito bem lembrada por Sergio. “Menina encantadora, educada, andava em
cavalos bravos”, disse Sergio.
Antes de me despedir de Sergio, solicitei que enviasse uma mensagem aos
descendentes do Comendador Pedro Morganti.
“Eu só posso falar muito bem de uma família que praticamente nos
adotou. Nós não éramos considerados seus empregados, éramos considerados amigos
de verdade. Eu criei todos os meus filhos aqui em Monte Alegre, e nunca não nos
faltou nada na época dos Morganti. Dona Joaninha foi uma santa, que sempre se
preocupou com todos. No inverno ela distribuía cobertores a todos, tamanha a
sua preocupação com o frio e a proximidade com o Rio Piracicaba. Não é fácil
achar uma família como essa. Tenho muita saudade de todos. Estou com 74 anos, e
vou levar comigo essas boas lembranças”, disse Sergio.
Antes de retornar a Ribeirão Bonito, passei por uma rua que leva o nome
de meu tio José Ronco. Foi um dia maravilhoso!
Veja AQUI as fotos de Monte Alegre
Assista ao vídeo AQUI
Saiba mais sobre a Usina Monte Alegre AQUI
Conheça o Blog do Gaeta - Ex-funcionário da Usina Monte Alegre AQUI
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2 comentários:
Sergio, parabens pelas materias do blog
1- Usina Monte Alegre.....bem escrito e muito bacana lembrar como era nos tempos antigos a relação patrão / empregado , no tempo em que um emprego era para a vida toda..........gostei muito
2- fotos antigas
3- reinauguração do clube dos trabalhadores. Parabens pela reportagem e parabens ao Juninho.
abraço
Pedro Sergio, fiquei muito emocionada com seu relato sobre Monte Alegre. Que bom vcs. terem ido até lá para rever os lugares, alguns abandonados, outros muito bem conservados, com a linda capelinha e o grupo escolar. Rememorei os tempos de ferias em que passavamos em Monte Alegre. Bjs.IawsTo
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