sexta-feira, 29 de março de 2013

Monte Alegre em prosa e verso

Monte Alegre  lá deixei, nunca mais esquecerei, suas flores em seus jardins, viverão prá sempre em mim... Tal como no hino do importante vilarejo em Piracicaba, Monte Alegre marcou a vida de muitos que lá moraram e conviveram com aquele pedaço de chão abençoado.
 Monte Alegre - Piracicaba

Nesta sexta-feira Santa resolvi voltar a Monte Alegre, em Piracicaba,  após mais de 40 anos. Explico: Meu avô Caetano Ronco  trabalhou na Usina Monte Alegre(UMA), por um período longo de sua vida, acabando por se aposentar na própria Usina.  Por lá criou seus 12 filhos. Meu pai e dois tios também iniciaram suas vidas de trabalho na UMA.
As lembranças de Monte Alegre não poderiam ser melhores, uma vez que várias férias escolares, quando criança, passava junto com meus tios, desfrutando da beleza do local, a amizade dos que ali moravam, e usufruindo de toda a estrutura montada pela família Morganti, donos da Usina monte Alegre, para o bem estar de seus empregados.
Após chegar em Monte Alegre, confesso que me deu um nó na garganta, fruto de  uma mistura de saudades, saudosismo, alegria e de certa forma tristeza também.
Acho que não é difícil compreender esse tipo de reação, após 40 anos de boas lembranças, e é claro, saudades de meus pais que não estão mais conosco.
Monte Alegre é um vilarejo que abrigou famílias, na sua maioria trabalhadores de origem italiana, que com os seus braços fortes ajudaram na construção da gloriosa Usina Monte Alegre.
 
 União Monte Alegre comemorará este ano 90 anos de fundação

Seu Proprietário, o Comendador Pedro Morganti, coordenou o crescimento do vilarejo de forma ordenada. Morganti queria que seus funcionários trabalhassem com prazer.  Para tanto montou em Monte Alegre uma verdadeira cidade, para que nada pudesse faltar aos seus colaboradores e empregados.  As casas de colonos eram de boa qualidade, construídas com tijolos, telhas de barro, além de instalação elétrica. Tinham água tratada e esgoto. Assis Chateubriand, o magnata das comunicações no Brasil, enxergou no bandeirante da toscana, Pedro Morganti,  a capacidade e visão para os negócios.
Como senhor do engenho, capacitado e consciente, Pedro Morganti tinha em mente que o trabalhador deveria trabalhar sim, mas com toda a estrutura necessária, com certo conforto e a recreação não poderia faltar.
A estrutura de Monte Alegre contava com ambulatório médico com sala para pequenas cirurgias,  centro de puericultura, farmácia, gabinete dentário, armazém, cinema, campo de futebol dos mais modernos para a época. Foi alí que surgiu o fabuloso jogador  Baltazar.
 O Clube local recebia orquestras famosas vindas da cidade de São Paulo para abrilhantar os grandes bailes.
Em 21 de janeiro de 1927, foi fundada a Escola Marquês de Piracicaba. Pedro Morganti contratou professores de fora para que pudessem lecionar aos alunos, filhos dos trabalhadores. A Escola chegou a ter em seu quadro, 400 alunos em dois turnos. O ensino da Marquês era de primeira qualidade.
Católico, Pedro Morganti construiu em 1936, próximo à sede da fazenda, uma capela onde todos os funcionários tinham acesso. Morganti fazia questão que a comunidade participasse das missas, rezadas na Capela que levou o nome de  São Pedro e que teve a pintura interna assinada por Antonio Volpi, ainda desconhecido como artista da pintura.
A Usina possuía 12 locomotivas, cada máquina levava o nome de um membro da família Morganti. Três delas, foram construídas nas oficinas da própria UMA, por João Bottene e sua equipe.
Monte Alegre hoje tem um administrador. Trata-se de  Wilson Guidotti Junior(Balu), que aos poucos está restaurando os prédios ali existentes, com a ajuda da Prefeitura de Piracicaba. O mais difícil parece estar na restauração do prédio da própria Usina Monte Alegre.
Sergio Pelegrini
Nesta sexta-feira, dia da visita a Monte Alegre, após bater mais de 300 fotos, fui ao encontro de um morador antigo do vilarejo. Trata-se de Sergio Pelegrini, que trabalhou para os Morganti de 1942 a 1969, quando a Usina e todo o grupo da Refinadora Paulista, de propriedade da família Morganti, foi vendida para José da Silva Gordo, um dos donos do então Banco Português do Brasil.

Para não perder uma só palavra do Sergio, abri o microfone de um pequeno gravador. Tive a impressão,  de que o Sergio precisava contar a história para alguém de forma ordenada e emotiva.
O Relato
“Eu conheci o Comendador Pedro Morganti, porém tive mais contato com dona Joaninha, a esposa de Pedro Morganti, uma verdadeira santa”, disse Sergio.

Nesse momento, percebí que os olhos do Sergio ficaram marejados. “Dona Joaninha era a mãe de nós todos, quando ela sabia que alguém estava doente na família, sua preocupação não era diferente de um filho seu” disse.
Muitas histórias foram apresentadas pelo funcionário que dedicou parte de sua vida na tarefa de refinamento do açúcar da marca Tamoyo, produzido pela UMA, sempre com a mesma emoção.
Sergio disse que certa vez, Lino Morganti, filho de Pedro, quis saber de onde vinha um certo barulho de pessoas conversando, e que sempre isso acontecia aos domingos, quando Lino estava na casa sede de Monte Alegre.
 Sergio disse que um secretário de Lino,   descobriu que se tratava de funcionários que se reuniam na barranca do Rio Piracicaba para pescar e conversar. Sabendo disso,   no local da pescaria, Lino mandou que construísse um pequeno clube com churrasqueira, barracão para refeições e área de lazer para crianças. E alí estava formada a “Teixeirada”, como ficou conhecido, mais um lugar de recreação para funcionários da usina.
Sergio lembrou o nome de todos os filhos de Pedro Morganti e alguns de seus netos, especialmente os filhos do Lino. Uma das filhas de Lino a Renata, foi muito bem lembrada por Sergio. “Menina encantadora, educada, andava em cavalos bravos”, disse Sergio.

Antes de me despedir de Sergio, solicitei que enviasse uma mensagem aos descendentes do Comendador Pedro Morganti.
“Eu só posso falar muito bem de uma família que praticamente nos adotou. Nós não éramos considerados seus empregados, éramos considerados amigos de verdade. Eu criei todos os meus filhos aqui em Monte Alegre, e nunca não nos faltou nada na época dos Morganti. Dona Joaninha foi uma santa, que sempre se preocupou com todos. No inverno ela distribuía cobertores a todos, tamanha a sua preocupação com o frio e a proximidade com o Rio Piracicaba. Não é fácil achar uma família como essa. Tenho muita saudade de todos. Estou com 74 anos, e vou levar comigo essas boas lembranças”, disse Sergio.

Antes de retornar a Ribeirão Bonito, passei por uma rua que leva o nome de meu tio José Ronco. Foi um dia maravilhoso!

2 comentários:

Guilherme Haehling disse...

Sergio, parabens pelas materias do blog
1- Usina Monte Alegre.....bem escrito e muito bacana lembrar como era nos tempos antigos a relação patrão / empregado , no tempo em que um emprego era para a vida toda..........gostei muito
2- fotos antigas
3- reinauguração do clube dos trabalhadores. Parabens pela reportagem e parabens ao Juninho.


abraço

Maria Beatriz disse...

Pedro Sergio, fiquei muito emocionada com seu relato sobre Monte Alegre. Que bom vcs. terem ido até lá para rever os lugares, alguns abandonados, outros muito bem conservados, com a linda capelinha e o grupo escolar. Rememorei os tempos de ferias em que passavamos em Monte Alegre. Bjs.IawsTo