Mais de 30 pessoas já prestaram esclarecimentos à Polícia Civil desde o incêndio na danceteria que deixou mais de 230 mortos
Homenagens às vítimas continuam sendo feitas em frente à casa de shows em Santa Maria
Foto:
Adriana Franciosi / Agencia RBS
Mais de 30 testemunhas relacionadas à tragédia da danceteria que
se incendiou em Santa Maria foram ouvidas pela Polícia Civil nos dois
últimos dias. Os depoimentos convergem num sentido: falhas de segurança,
inclusive na orientação para evitar que qualquer pessoa deixasse a
boate sem entregar a comanda. Isso se revelou fatal no domingo, quando o
fogo irrompeu no recinto fechado.
Um dos que prestou depoimento à polícia é um ex-chefe da segurança da
Kiss, que trabalhou lá durante dois anos. Em entrevista a Zero Hora,
ele disse que a orientação dos donos da boate — no caso, Elissandro
Spohr, o Kiko — era fechar as portas e não deixar alguém sair antes de
pagar a despesa. Se houvesse uma briga, os seguranças só deixavam os
brigões saírem depois que pagassem o que fosse devido.
— Isso resultou em inúmeras confusões, porque muita gente tentava
escapar da pancadaria e nós éramos obrigados a impedir que saíssem —
disse.
O mesmo segurança relata que as festas eram sempre abarrotadas de
gente. Em shows como Papas da Língua e Reação em Cadeia, por exemplo, a
lotação da Kiss teria ultrapassado 2 mil pessoas, segundo ele. A
capacidade autorizada para a Kiss, conforme o Corpo de Bombeiros, é de
691 pessoas.
O ex-funcionário disse que teria avisado Kiko: "vamos parar de
colocar gente, está muito cheio". A resposta, segundo ele, teria sido:
"você não tem nada a ver com isso: cuida da porta que a gente cuida de
ganhar dinheiro".
O segurança contou ainda que uma vez aconteceu um princípio de
incêndio na cozinha e nenhum dos extintores teria funcionado. Os
funcionários conseguiram apagar o fogo usando panelas com água.
Uma outra ex-funcionária, uma promoter, disse aos policiais que a
Kiss estaria em nome de duas familiares de Kiko "para evitar problemas
com a Justiça". Ela também afirmou que a casa estava sempre superlotada.
O segurança e a promoter disseram, no depoimento, que Kiko teria se
envolvido em várias brigas dentro da boate. Na ficha policial do
empresário há registro de duas ocorrências registradas contra ele,
por clientes, por agressão. Já o outro sócio da Kiss, Mauro Hoffmann, o
Maurinho, foi investigado por estelionato, nos anos 90.
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