segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Histórias que a vida conta...


O CASO DO SUMIÇO DO REVÓLVER
Naquela noite de abril, Fidel chegou com algumas horas de atraso à embaixada do Brasil em Havana. Todos empunhando copos ou garrafas, ali o esperavam o futuro chanceler Vasco Leitão da Cunha, que organizou a recepção, Che Guevara, escalado pelo chefe para distrair os visitantes, o recentíssimo amigo de infância Jânio Quadros, figurões do janismo e jornalistas que cobriam a visita a Cuba do candidato à presidência da República. (O vídeo abaixo mostra a animação da comitiva já na chegada à ilha. Até o exemplarmente sóbrio Afonso Arinos acabara entrando na festa, com um chapéu na cabeça e maracas nas mãos).

No corredor da embaixada, Fidel fez uma derradeira escala no lavabo para deixar sobre a  caixa da descarga o cinto com o revólver no coldre que completava o uniforme de guerrilheiro. Entrou na sala de jantar desarmado, falante e feliz. Só deu a conversa por encerrada no meio da madrugada. Um dos últimos a retirar-se, embarcou num jipe pilotado pelo ajudante de ordens e desapareceu na noite. Reapareceu às cinco da manhã para buscar o que esquecera no lavabo. E então descobriu que o cinto não estava mais lá. Nem o coldre. Nem o revólver.
O jornalista Villas-Boas Corrêa(foto), que testemunhou a cena, resumiu num artigo no Jornal do Brasil a reação de Fidel. “Ele perde a calma, insiste na busca. A criadagem é acordada. Ninguém vira ou tinha notícia da pistola que, segundo Fidel, o acompanhava desde Sierra Maestra, uma mascote que era parte da sua vida”. À beira de um ataque de nervos, a vítima suspendeu as buscas e foi tentar dormir.

Mas não se renderia, conta Villas-Boas Corrêa: “Compareceram à embaixada, horas depois, o comandante Raulito Diaz Argueille, chefe do Birô de Investigações, e o capitão Chino Figueiredo, do serviço secreto, reclamando a lista com os nomes de todos os que compareceram à recepção e deixando claro que Fidel exigia a devolução da arma no prazo de 24 horas”. Teria de esperar o dobro.

Passadas 48 horas, o autor da audaciosa gatunagem procurou Leitão da Cunha(foto),  para propor o acordo: ele devolveria o produto do roubo se o dono não soubesse quem foi. O embaixador cumpriu a promessa e levou o segredo para o túmulo. A História ainda ignora a identidade do jornalista brasileiro que conseguiu o que nem os americanos conseguiram: desarmar Fidel.
Fonte: Trecho de um texto de Augusto Nunes

Nenhum comentário: