sábado, 17 de setembro de 2011

Opinião: Remodelação da avenida da Saudade: Oportunidade, Patrimônio e Futuro

Remodelação da avenida da Saudade: Oportunidade, patrimônio e futuro
 *Luciana Mascaro

Obras na Avenida da Saudade

A obra de remodelação da Avenida da Saudade em Dourado-SP representa uma oportunidade de valorização do patrimônio da cidade. Vai começar a ser realizada nos próximos dias. Parte dsse patrimônio já é reconhecido em nível estudual, através do tombamento, pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico do Estado de São Paulo) da EMEF Senador Carlos José Botelho.

Na região da escola, a Praça e a Igreja Matriz também constituem o patrimônio histórico, arquitetônico e paisagístico dos cidadãos douradenses e têm valor indiscutível. É possível lembrar de outros pontos importantes da cidade, que existem ou que desapareceram. Por exemplo, a Estação Ferroviária e a ferrovia que, se não tivessem valor, não seriam motivo de homenagem na... rodoviária.

Todos esses lugares e prédios, que têm valor hoje, foram criados para responder às necessidades do passado e continuam a servir. Assim, podemos nos perguntar se as decisões tomadas hoje terão alguma consequência positiva no futuro.

Por exemplo, podemos nos perguntar se o novo projeto para a Avenida da Saudade vai valorizar a cidade de amanhã. Ou vai apenas remediar alguns problemas do presente. De que forma o projeto leva em conta o problema do trânsito e da qualidade de vida na cidade?
Trânsito – O novo projeto para a Avenida da Saudade vai alargar suas faixas de rolamento. Esse espaço “a mais” será destinado apenas aos automóveis? Muita gente circula a pé ou de bicicleta pela cidade... O que vai ser feito para eles nessa obra de remodelação? O transporte público foi considerado? E como a velocidade vai ser controlada em ruas mais largas?

A Prefeitura informa que a obra vai melhorar o escoamento de água e a segurança dos usuários: motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres. Ótimo! Mas como?

Cada modo de circular exige espaços e velocidades diferentes. Por isso, se apenas os automóveis forem considerados no planejamento urbano, haverá conflito. Andar a pé será difícil, andar de bicileta será perigoso e assim por diante. E cada um de nós pode circular de maneiras diferentes num mesmo dia. Ser pedestre ou motorista são condições variáveis.

Qualidade de vida - Podemos lembrar da arborização da cidade como parte do patrimônio municipal extinto. Com certeza, muita gente se lembra de áreas arborizadas e que foram desaparecendo ao longo do tempo. Será que ainda existem fotos dessas áreas?

Muitos vão dizer que, se as árvores foram derrubadas, é porque existiram motivos: problemas com rede elétrica, com a destruição das calçadas pelas raízes, com idade das árvores etc. Sim, mas por que não investir num projeto de arborização hoje, que será benéfico no futuro?

As áreas verdes têm impacto direto no aumento da qualidade de vida de uma cidade. Além de bonitas, essas áreas mantém a temperatura agradável, atraem a fauna e contribuem para o bem estar e a saúde da população. Atualmente, o imenso valor patrimonial de áreas urbanas arborizadas e verdes é reconhecido e protegido.

Por exemplo, quem não conhece a rua Voluntários da Pátria (Rua 5), em Araraquara? O corredor formados por Oitis dos dois lados da calçada foi tombado pelo órgão de proteção do patrimônio municipal e hoje atrai turistas. Outro caso parecido é o da rua Gonçalo de Carvalho, em Porto Alegre (RS), também tombada como patrimônio municipal. É constituída por uma fileira de Tipuanas de cada lado da calçada que se estendem por quase 1km.

As ruas citadas sobrevivem porque moradores se mobilizaram para não permitir sua destruição! Se não tivessem valor ninguém se daria ao trabalho de defendê-las!

Oportunidade - E o que isso tem a ver com a remodelação da Avenida da Saudade? Ela oferece uma oportunidade de plantar, no sentido figurado e no sentido real. Essa avenida merece uma reestruturação que inclua um projeto de arborização urbana e que considere outras formas de circular além do automóvel.

Esses dois itens melhorariam imensamente a vida dos cidadãos. Agregariam valor ao patrimônio municipal, pois a avenida é a “porta de entrada” da cidade. E, finalmente, seriam um sólido investimento no futuro. Imaginem o que seria a cidade sem a Igreja Matriz ou sem a EMEF Senador Carlos José Botelho...

Embora ainda não existam projetos para áreas verdes e para arborização urbana, é animador ver a Prefeitura anunciar melhorias para pedestres e ciclistas.

O dinheiro público deve ser empregado em obras duradouras. O projeto a ser realizado agora será defendido e protegido no futuro. Ou será esquecido, refeito... A oportunidade está aí. A decisão é dos políticos e dos cidadãos.
Fonte: "Espaço Público" da revista PISEAGRAMA
 
Luciana Mascaro - Aquiteta e Urbanista com doutorado em teoria e história da Arquitetura e Urbanismo pela EESP - USP

 É nascida em Dourado, de família tradicional da cidade, e atualmente reside na Bélgica

2 comentários:

Antonio disse...

Concordo com você Luciana em relação a estação ferroviária. Também deviriam valoriza-la ou tentar resgatar o que sobrou da doce lembrança... Gostaria de relembrar, como esta a restauração da locomotiva? ate agora não foi divulgado nada!!!

luciana mascaro disse...

Caro Antonio, não sei nada sobre a restauração da locomotiva. É uma boa pergunta...