quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Editorial: A Câmara acolhe um dos seus

A CÂMARA ACOLHE UM DOS SEUS

Josmar Verillo*


A Câmara dos Deputados da República Federativa do Brasil deu no dia 30 de agosto as boas vindas a um representante típico da entidade, a Deputada Jaqueline Roriz. Portanto não é surpresa a votação que respalda  um comportamento repudiado pela sociedade, mas que é admirado por 265 deputados federais daquela entidade.

Ainda que existam pessoas honestas na Câmara Federal, a entidade é hoje representada pelo comportamento desses 265 indivíduos que enxergam como normal os atos da deputada. Mesmo porque o eventual delito da mesma é nada perto do que alguns deles devem ter no currículo.

Terroristas, traficantes, pedófilos, estrupadores, assaltantes, pratiquem os seus crimes, quaisquer que sejam eles, e com a eventual fortuna amealhada, cumprem a sua passagem em um partido político, pois isso é muito fácil no país, e com quantidade suficiente de votos comprados,  abriguem-se na Câmara Federal onde estará protegido com o foro privilegiado, imunidade parlamentar, e fora do alcance das instituições republicanas de repressão ao crime.

É por isso que já há algum tempo a Câmara Federal é uma espécie de abrigo a perseguidos pela lei. Por isso alguns criminosos gastam fortunas para conquistar um cargo na Câmara Federal. Uma vez eleito estará a salvo e na companhia de semelhantes. É uma família, cosa nostra.

O aspecto mais funesto disso tudo é que meliantes se aconchegam e são protegidos por uma instituição da república e recebem uma remuneração regia do contribuinte. Muito mais do que custariam em um presídio.

Um dos argumentos para explicar o voto dos 265 suspeitos é que se a história pregressa dos parlamentares fosse considerada para avaliar a sua permanência naquele órgão republicano, sobrariam muito poucos, e isso causaria uma crise institucional.

Então para não causar uma crise institucional, vamos ter que conviver com corruptos, fraudadores, pedófilos, traficantes, estrupadores e ladrões governando as nossas vidas, majestosamente abrigados e regiamente remunerados na Camara dos Deputados. Segundo alguns, é o preço a pagar para não termos uma crise de governabilidade, essa que hoje em dia é a desculpa para aceitação de todos os males.

É uma pena essa situação e uma injustiça para com os 165 deputados que votaram pela cassação. Diga-se de passagem que o Comitê de Ética fez o seu trabalho, se expôs em uma votação aberta, mas foram traídos por covardes que se escondem na cortina prostíbula do voto secreto.

O voto secreto é o voto dos covardes, daqueles que  fogem de suas responsabilidades. Os 165 que votaram pela cassação do mandato da deputada Jaqueline Roriz tem um trabalho a fazer. Forçar uma votação para acabar com o voto secreto naquela instituição.

Essa decisão da Câmara de Deputados envergonha o país, os cidadãos de bem e agride o senso de decência que deve prevalecer nas sociedades civilizadas. Como conselheiro da AMARRIBO Brasil devo fazer uma apresentação ao Comitê de Experts da OEA sobre o cumprimento por parte do Brasil da Convenção contra a corrupção da OEA no início de setembro. Como em outras situações, será extremamente difícil apresentar uma imagem positiva do país depois da benção dada pela Câmara dos Deputados a um membro flagrado em atitudes delinqüentes, e que nem ousou se defender das acusações.

Um político muito popular no Brasil já qualificou o conjunto de membros da Câmara dos Deputados como 300 picaretas. Pensando em como apresentar uma visão positiva do Brasil na OEA, estou pensando em dar uma boa notícia. Já não são mais 300, mas sim 265.

·        * Administrador de Empresas, Doutor em Economia pela Michigan State University, e Vice Presidente do Conselho de Administração da AMARRIBO BRASIL.

12 comentários:

Andre Lucato disse...

É fácil concordar com quase tudo aí, exceto o fim do voto secreto.
O fato de querermos "fazer justiça com as próprias mãos" não justifica uma quebra desse sigilo.
O voto eleitoral é secreto, o voto dos jurados é secreto e o voto dos parlamentares também deve ser secreto, todos pelos mesmos motivos: o sujeito não pode ser exposto.
O eleitor não pode estar sujeito à pressão ao votar, o jurado não pode estar sujeito a retaliações por condenar e o parlamentar também não pode ficar exposto à chantagem (nem mesmo da opinião pública) por seu voto.
Em todos os casos, o voto é de consciência e a consciência do cidadão tem que ser livre de patrulhamento de qualquer tipo.
Se isso gera distorções como o arquivamento de um processo como o da Jaqueline Roriz, é o preço que a democracia paga pela tentativa de ser justa.

Wal disse...

..

Impecável o editorial do Josmar.

Sergio Ronco disse...

Em Ribeirão Bonito já conseguimos que o Voto seja Aberto. Acho que o cidadão não deve ter medo nem receio de se posicionar, e de mais a mais, acho justo que o Eleitor saiba como o seu deputado, vereador está se posicionando. Não vejo patrulhamento, vejo transparência.

Este mesmo Blog, guardando as devidas proporções do assunto, tomou uma posição quanto aos comentários. Caso queira participar terá obrigação de assinar o comentário.
Ronco

Beto Mastrantonio disse...

concordo plenamente com o Josmar. Teria sim que o voto dos parlamentares serem abertos, para o povo poder ver em quem votou, isso não é demérito é transparência.

Dagmar Blota disse...

Josmar,

O voto aberto deveria ser obrigatório,afinal de contas os políticos,eleitos por nós,deveriam "abrir"os nossos votos,eles ali estão como lídimos representantes de todos nós!Os votos são nossos e portanto precisamos saber como quem nos representa está votando em nosso lugar!
Isto sim é DEMOCRACIA!!!
Eles não estarão fazendo favor algum,e sim cumprindo uma obrigação.
Parabens por sua cronica,vc.é bárbaro.

Andre Lucato disse...

É patrulhamento por parte da imprensa e do povo, é demagogia dos deputados que agora pedem o voto aberto (pois sabem que é necessária uma emenda constitucional para isso e não um requerimento).
Por mais que não gostemos do resultado, pode ter havido alguns que tenham votado com a honesta convicção de que não deve haver pena política pelo crime cometido estando a pessoa fora da política (nem sei se é o caso, estou dando um exemplo). Mas mesmo tendo votado por convicção, estaria nas listas de "condenados", exposto à execração pública, tendo que explicar por que protegeu a corrupta.
A decisão é da câmara como um todo e não deve ser influenciada pela opinião pública. Eu também acho que ela deveria ter sido cassada, mas nem por isso vou querer ver as regras do jogo alteradas só para ter resultados ao meu favor...
Com certeza a justiça vai analisar o caso dela e, caso o crime não prescreva por inação dessa mesma justiça, ela pagará por esse crime. Mas isso nunca é suficiente.
Aliás, se o judiciário não fosse o poder mais podre da República, já teria analisado o caso e a Jaqueline já estaria cumprindo pena. Longe do parlamento.
Acontece que, se bobear ela nem punida será pois seu crime incorrerá em prescrição.
É esperar para ver.

Wal disse...

Diferente do eleitor e do jurado, o parlamentar é um REPRESENTANTE DO POVO e ELEITO PELO POVO.
Portanto, nada mais justo que o povo tomar conhecimento do posicionamento do seu representante.

Com o voto secreto, o eleitor nunca saberá se está sem bem representado, se o político em questão, mereceu seu voto.

Em Brasilia bem que podia ter umas mulheres para, de panela na mão, exigir o fim do voto secreto.

Paulo Reinaldo Ávila disse...

Para quem não sabe, o projeto de eliminar o voto secreto já foi aprovado em 1ª votação pela própria Câmara, tendo a necessidade da 2ª votação. O que acontece é que engavetaram o projeto já votado e não o colocam para a 2ª votação

Zé Paulo disse...

Nós aqui no blog estamos martelando para que o voto seja aberto PARA QUE O ELEITOR SAIBA como votou o "seu" deputado. Acontece que milhares de eleitores já sabem de sobra quem é Waldemar Costa Neto, Jader Barbalho, Sarney, Collor e muitos outros, e continuam reconduzindo esses individuos que têm cadeira cativa no congresso. Então, no meu entender, a honestidade tem que partir do eleitorado que é o responsável pelos que lá estão.

carlos alberto barrenha disse...

É justamente o partido fundado e comandado por este "politico muito popular do brasil" que detém a maioria da bancada nesta casa (bancada própria e coligações) e este mesmo partido que protagonizou os maiores escandalos da história republicana os quais dificilmente fazem parte das pautas de denuncias da maioria das ONG que lutam pela moralidade na coisa pública, estranho não????

Andre Lucato disse...

O pessoal se esquece que quem é corrupto é o ser humano e não o político. O político é um ser humano, cidadão, que provisoriamente milita na política.
O cidadão de ontem é o político de hoje.
Países com baixo índice de corrupção não tem o povo melhor, têm é instituições fortes, que punem severamente a corrupção e o fazem rapidamente, de modo que o corrupto pego tenha o menor tempo possível para agir.
Aqui, o judiciário leva décadas para analisar um caso. O político geralmente consegue protelar ad infinitum seus processos e exerce vários e vários mandatos antes de qualquer manifestação da justiça. O que faz o crime compensar. Em países com instituições fortes e que pune severa e rapidamente os crimes de seus políticos o crime compensa menos, o que faz menos pessoas arriscarem-se. Nesse contexto os partidos não vão querer em seus quadros os políticos que, mesmo bons de voto, podem manchar a imagem do partido indo para a cadeia. Aqui compensa para os partidos manterem em seus quadros os políticos mesmo com problemas com a justiça, pois eles vão puxar muito voto ainda antes de serem condenados, mesmo porque é grande a chance de nem serem!
No fim das contas, no Brasil, é necessário RENOVAR! Votar em quem não tem experiência, justamente para dar uma oportunidade a quem entra na política e quer realmente mudar.
Por fim, cabe lembrar que para existir o corrupto, necessariamente tem que existir o corruptor e quase com certeza muitos são "cidadãos indignados", empresários, comerciantes, sonegadores, que NUNCA aparecem no noticiário! Cabe lembrar que o motorista que trafega pelo acostamento, para em fila dupla ou contra mão, o cidadão que dá dinheiro ao policial para não ser multado, que adultera combustível, que aumenta a despesa médica na declaração de IRPF ou que declara menos do que ganhou também podem E DEVEM ser encarados como uma peste para o país!

Sonia Borges disse...

Voto de Deputados e Senadores JAMAIS deveria ser secreto e muito menos ter direito a Abster-se de votar...Um senador não ganha quase 1 milhão de votos para se sentir no DIREITO DE ABSTER-SE de votar ou votar "secreto", o escolhemos como representante porque quando sai para pedir votos, diz que vai dar "a cara a tapa", se não tem a honradez de fazer isso, peça pra sair...É lamentável o que acontece em esfera Nacional, imagine nos municípios...