O Migrante
Dra Maria Rosa Spinelli
Ribeirão Bonito tem recebido pessoas em tempo de safra para trabalharem na colheita da laranja, e no corte da cana de açúcar. São migrantes do Nordeste e de Minas Gerais. O propósito desses grupos não é viver na nossa comunidade.Querem retornar a sua Terra Natal e viver por lá com seus costumes e suas famílias. Isto é tão real que, quase todos eles por anos seguidos,quando conseguem, após o período de colheita o seu dinheiro, voltam à sua terra de origem.
Eles são diferentes do imigrante é aquela pessoa que vai para outro local a fim de viver por lá.Busca conhecer e se adaptar aos costumes da nova região que escolheu para morar. A exemplo disso temos na historia de nossa cidade os imigrantes fundadores de Ribeirão Bonito entre eles os espanhóis, os portugueses, os italianos que aqui permaneceram dando origem a nossa sociedade e aos nossos costumes.
Mas e o nosso trabalhador e colaborador que vem de outros Estados do Brasil? Ele chega com seus costumes, musicas roupas gestos e não está em busca de uma adaptação aos costumes do local, pois seu objetivo é trabalhar por um período de safra e retornar a sua cidade anterior, onde nasceu e vive. Age como se fossem “turistas mal educados” em nossa cidade,não se preocupando em cuidar daquilo que pertence a este local; às vezes também pouco se importando com os nossos costumes; sabem por quê?
1- Está aqui só por um tempo, não se sente pertencendo ao local.
2- Veio aqui em busca de dinheiro que esse trabalho possa lhe oferecer.
3- Não está integrado à comunidade de nossa cidade.
4- Assim, preserva seu costume sem se importar com os de Ribeirão Bonito,e muitas vezes, por medo de perder os seus próprios costumes ou por considerá-los melhor ou pior, pois isto seria igual a perder sua identidade como pessoa.
Assim sentindo pode responder com atitudes agressivas às pessoas residentes do local, pois ele não se sente responsável por nada nesta cidade para onde veio,e seu objetivo(torno a lembrar) é ganhar dinheiro e voltar a sua terra (como dizem).
O não acolhimento pelos moradores de nossa cidade, piora as atitudes que podem ser muito conflituosas.
O ser humano precisa de acolhimento, reconhecimento e regras sociais. Desta maneira ele se sente pertencente a um grupo ,ao que está inserido ,assim desenvolve atitudes e responsabilidades com o meio ambiente onde vive mesmo que temporariamente.Quem se sente pertencente ao local não agride o meio ambiente.
Quanto mais marginalizado um indivíduo se sentir, maiores serão as possibilidades de agir com agressividade ao local onde vive e com as pessoas deste local. Isto vai se tornando uma grande bola de neve, pois os moradores o descriminam e ele reage a este comportamento de rejeição com agressão e mais então será descriminado e mais agressão... Não terá final feliz nesta história.
A possibilidade de estresse nesse caso ocorre entre os dois grupos de pessoas “os moradores da cidade” e os “temporariamente hospedados na cidade”, pois segundo as pesquisas os nordestinos migram sempre esperando um dia voltar ao seu estado de origem, quando não conseguem sentem uma frustração diante da vida. Por outro lado os moradores se sentem invadidos por costumes e atitudes diferentes das que estão habituados. O que pode estressá-los só em pensar que é época da colheita. Ambos então se estressarão porque não existe uma comunicação adequada entre eles.
A migração no Brasil ocorre em todas as classes sociais pela fantasia de melhorar seu padrão de vida. Porém algumas classes são mais bem preparadas do que outras para fazer esta proeza.
Já no caso de Ribeirão Bonito fica difícil determinar qual ação social seria mais satisfatória para esta resolução, de possíveis conflitos. Poderia haver uma ação conjunta do Serviço Social, do Serviço de Psicologia e Empresários da região, além do Serviço Religioso, sabemos que alguns conflitos se resolvem pelo poder de moralidade religiosa.
Construir um local para que esses trabalhadores possam estar juntos e praticarem livremente seus folclores, seus costumes, suas crenças, dificilmente se sentiriam rejeitados e assim menos reação negativas ao local aconteceriam.
Claro que as regras da sociedade precisam e devem ser bem esclarecidas e esclarecer os padrões de punições sociais a quem não as respeitar.Isto porque no caso do Brasil dada a sua grande área geográfica e varias culturas ascendentes,critérios de punições podem ser diferentes de uma região para a outra.Apesar de sabermos que a Justiça deveria ser uma só a qualquer individuo em qualquer lugar do território Nacional, mas não é assim, todos somos conhecedores destas diferenças.
O limite é o começo de uma grande ordem social na democracia, pois só é através dele que se vê o outro e não só a si mesmo. Precisamos ter consciência que punição por punição não estabelece uma boa educação social e um bom desenvolvimento ,nem individual muito menos social.
Já contra preconceitos a única arma é a educação que nos leva a certeza de que somos animais racionais,de que não somos iguais em atitudes e valores, de que não pensamos e nem sentimos igualmente o mesmo fato, sabendo disto diminuiremos a nossa hipocrisia e a nossa onipotência, ficarmos menos exigentes conosco e com os outros e mais flexíveis e leves diante da vida.
Realizar uma festa de recepção a essas pessoas, sem bochichos de exclusão e preconceito, pode ser um bom começo; nesta festa algumas regras de lei e ordem poderão ser colocadas e claramente explicadas, usando autoridades do local e pessoas da região que vieram em busca de trabalho e hoje são habitantes da nossa cidade. Podemos seguir o exemplo de Gramado, cidade do Rio Grande do Sul, onde TODOS habitantes são responsáveis pela ordem e segurança social. Lá você pode andar a pé à vontade, pois tem segurança para isto. Fizeram um grande investimento nisto, pois até um xixi na rua é motivo de advertência seja morador ou turista, seja ele criança ou adulto. Um simples grito sem motivo é também advertido. A cidade é silenciosa e existem lugares específicos para diversões mais ruidosas e musicas mais alta, nunca no carro que trafega pelas ruas.
Sou da opinião que o direito de ir e vir de nossa Constituição poderia ser bem melhor discutido no sentido de respeito aos costumes locais inclusive da influencia dos moradores de rua na educação de crianças. Isto não significa conservadorismo de atitudes, pois novos comportamentos são bem aceitos para mudanças de qualquer comunidade, mas temos que manter regras sociais, e regras são regras. Segundo a psicologia social elas são necessárias para qualquer convivência seja de duas ou mais pessoas.
Com certeza compete a população colocar na lista da ordem do dia: 1)acolhimento,2) respeito pelo diferente,3) inclusão social e familiar a fim de harmonizar mais o ambiente maravilhoso que a natureza nos oferece em Ribeirão Bonito. Para isto existe um poder Executivo eleito pelo povo da cidade que saberá unir forças para tanto; o Poder Judiciário que saberá esclarecer as leis até esta população; e o Setor Educacional que orientará as nossas crianças na formação de uma sociedade e não só no conhecimento tecnológico necessário hoje em dia . Precisamos mais do que jamais precisamos formar cidadãos respeitáveis e conhecedores de seus deveres e direitos.
Basta olhar este fatos e querer com a ajuda de especialistas existentes na população, resolver este conflito social e muitos outros da mesma ordem.
Não basta dar casa com luz e cesta básica,pois se a saúde, o esgoto,a água, a educação e ordem publica não vierem neste pacote a sociedade estará manipulada pelos doadores. Não adianta computadores para ignorantes, eles com certeza usarão de maneira errônea e desprezível a grande arma tecnológica da educação.Precisamos formar homens e mulheres de respeito e voltar a dar as nossas crianças espaço para brincarem e se desenvolverem socialmente.
Ensinar nossas crianças que ações do dia a dia como dizer: Bom Dia, com licença, obrigada, desculpe-me, por favor, posso ajudá-lo? Etc.. Ensiná-los a brincar com os pais e outras crianças, ensiná-los a cantar , eles serão melhores e mais felizes por compartilhar a vida com outras pessoas. Estas são as maiores armas que darão competência e qualidade de vida.
Maria Rosa Spinelli é Psicóloga
e Conselheira da AMARRIBO
9 comentários:
Foi um dos melhores textos já lidos sobre a real situação de Ribeirão Bonito
Perto da minha casa existem inúmeras criancas que gostam de "brincar" ou talvez gritar. Tento conversar com eles com a maior educação, mas a reciproca não é mesma. Os boys sempre estão com o volume do som do carro altissímo, e até mesmo o padre aproveita do mesmo artifício para divulgar os seus eventos . Gostaria muito de morar em Gramado, pois aqui em Rib. Bonito a esperança de um povo civilizado é utopia. PS. chutaram o retrovisor do meu carro no no último baile.
Excelente ponto de vista, apenas uma observação: pode ser que não haja uma relação entre esses tres episódios, mas é notado que uma parte dos envolvidos são jovens que constituem um mesmo grupo de amigos e que há um bom tempo vem atrapalhando a ordem na cidade, seja no ambiente escolar, nos espaços de lazer, na rua ... um dia a coisa tinha que degringolar. E não foi por falta de aviso, de atenção dispensada, tolerância. Não há como se sentir bem com o ocorrido, mas quem conhece LF, T, V, M, C ... não pode esperar outro desfecho
Perfeito
Excelente Raio X da situação atual
da cidade.
Depois que surgiu o tal de ECA todos acham que só tem direitos, nos deveres nimguem fala nem mesmo aqueles que deveriam, pois só defendem os diretos daqueles que nunca respeitam os direitos do próximo nem mesmo de seus familiares mais próximo que os pais ou responsáveis.
O texto é bem centrado e verdadeiro
Excelente a abordagem do post da Maria Rosa.
Essa questão é muito importante para se compreender o fenômeno da degradação urbana de muitas cidades que até o momento apresentaram excelentes indicadores de qualidade de vida.
Como não há controle migratório no Brasil (e os que se denominam "de esquerda" não devem se espantar com essa possibilidade porque na antiga União Soviética havia forte controle migratório e em Cuba ele existe até hoje tanto interno como externo).
Cidades que graças ao trabalho e organização de seus moradores tornam-se prósperas, atraem mão de obra desqualificada pelas oportunidades de emprego que oferecem.
Não há planejamento urbano que resolva esse problema. Talvez haja o tecnológico com a mecanização agrícola.
É um verdadeiro caos de mobilização humana que somente será resolvido, nas atuais condições brasileiras, no longuíssimo prazo. Até lá o destino das cidades é mesmo o da degradação urbana, com suas seqüelas de praxe: Crescimento da violência, favelização, crianças abandonadas, perda da identidade cultural da cidade, etc..
A alternativa correta seria o governo federal, com o dinheiro que arrecada dos estados desenvolvidos promover o efetivo desenvolvimento das regiões pobres de onde os migrantes se originam, gerar emprego e assim deter as migrações.
Décio
Também gostaria de morar em Gramado. Alguém mais ?
A culpa é de quem contrata esse pessoal. Só querem saber de lucro fácil. Vão atras de mão de obra barata. Não cumprem as leis e esse pessoal aceita. Quem paga a conta de certa maneira somos nós, cidadãos que pagam seus impostos e estamos sujeitos a aturar todo tipo de desreipeito.Esse é o progresso que ele trazem para nossa região.
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