quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Amparo a mulheres agredidas é negligenciado

A Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) divulgou, há poucos dias, balanço com o número de ligações recebidas pela Central de Atendimento à Mulher entre janeiro e junho deste ano. O aumento em relação ao mesmo período do ano passado foi de 112%, num total de 343.063 atendimentos. A maior parte das ligações continua sendo de mulheres que foram agredidas por seus companheiros.

Um dos aspectos que chamou a atenção de especialistas, no entanto, foi a quantidade de telefonemas de mulheres relatando sofrer ameaças. A violência psicológica foi evidenciada em quase 9 mil telefonemas, ficando atrás apenas dos relatos de agressão corporal, que chegam perto de 20 mil. Aproximadamente 50% das mulheres afirmaram correr risco de vida.

Para a secretária nacional de enfrentamento à violência contra mulher da SPM, Aparecida Gonçalves, as denúncias de ameaças mostram que elas correm perigo iminente. Entretanto, é comum, na avaliação dela, que as autoridades se neguem a dar amparo à mulher em casos em que não houve agressão física.

"Há descrédito na fala da mulher" alerta Aparecida. "E essa atitude pode levar a mulher à morte. A voz de uma mulher que reporta estar sendo ameaçada tem de ter credibilidade. Só a vítima tem a real dimensão do risco que corre".

Ela conta que ainda são muito comuns casos de policiais que dificultam o registro de denúncias de violência doméstica. Além de todo o terror psicológico vivido por essas mulheres, há grande risco de que as ameaças se tornem realidade. Para a secretária, o agressor, geralmente, não é calculista. E ele pode resolver colocar suas ameaças em prática a qualquer momento.

A coordenadora do Núcleo de Estudos da Mulher da UnB, Lourdes Bandeira, diz que "quando se trata da voz feminina, há uma série de preconceitos". Isto, segundo Lourdes, faz com que as mulheres deixem de denunciar quando são ameaçadas ou agredidas, permitindo que os agressores continuem livres para novos crimes.

A socióloga também critica o despreparo não apenas dos órgãos de segurança pública, mas também do sistema de saúde com relação ao trato da mulher vítima de violência doméstica.

"Isso a vulnerabiliza. Ela vai ter vergonha. Ninguém gosta de ser desacreditado", afirma.

Justamente por isso, o número de ligações à Central relatando ameaças é tão significativo. Pois as mulheres não precisam se identificar para receber orientações.

Fonte: (Redação - JB Online)

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