terça-feira, 16 de agosto de 2011

EDITORIAL - Pobres Corruptos


Pobres Corruptos

Josmar Verillo*

Juntamente com uma avalanche de denúncias de casos de corrupção que tomou conta do país nas últimas semanas, veio também uma onda de consternação de autoridades, juristas, e outras pessoas de fino trato, manifestando preocupação com a dignidade dos corruptos.

Afinal, o que eles fizeram de errado foi apenas desviar recursos que deveriam ser usados para educação, infraestrutura, saúde; e outras aplicações normalmente voltadas para os mais carentes. Isso não é tão grave na visão dessas pessoas, a ponto de se humilhar o ladrão com um par de algemas e uma foto no jornal.

A maioria dos dinheiros desviados nesse país iria beneficiar aquela população mais desassistida, que vota normalmente nos candidatos mais populistas, e que menos fiscaliza os gastos do governo.

Um desses elementos foi flagrado ensinando como superfaturar contra o governo. É governo mesmo, multiplica por três o preço.  Essa orientação deve estar classificada por alguns como atividade educativa. Já que a regra geral está sendo roubar do governo, porque não ensinar aos amigos essa arte? E roubar no Brasil não dá nem perda de dignidade, imaginem punição pelos crimes cometidos!

Colocar algemas nos corruptos fere a sua dignidade e isso pode atrapalhar as suas atividades futuras. E ademais o que a comunidade, os amigos, os parentes vão pensar dele? Um cidadão exposto à execração pública só porque roubou recursos de milhares de outros cidadãos? Nem pensar, o que irá depois a sociedade pensar dos corruptos? Isso pode lhes estragar a reputação e atrapalhar os negócios.

Por parte de pessoas que deveriam estar preocupadas com o zelo do patrimônio público houve mais preocupação com a dignidade dos corruptos, do que com os atos que os mesmos estavam praticando. Desviar recurso público não é um atentado contra a dignidade das vítimas, mas colocar uma algema no ladrão, atenta contra a dignidade do mesmo!

Em um país conhecido pelo rigor contra o crime como é os Estados Unidos, o Presidente do Fundo Monetário Internacional pode sair algemado da primeira classe de um voo pela acusação de uma única pessoa. Mas no Brasil, mesmo com enormes evidências de que corruptos estejam roubando o futuro do pais, prejudicando toda uma geração, eles não podem ser algemados e nem fotografados, pois isso atenta contra a sua dignidade.

Isso é um absurdo tão grande, e explica um pouco porque temos tanta impunidade nesse país. Nós somos o país dos bonzinhos, da tolerância, da malandragem, e dos sabichões que advogam em causa própria.

Tramita no Congresso um projeto de lei que torna a corrupção um crime hediondo, pois a corrupção é um assassinato em massa, uma chacina. Só que eles não são tão visíveis.

O que se espera das autoridades desse país, dos deputados e senadores, é que votem essa lei que servirá mais ao país, do que se preocupar com a dignidade do corrupto. Esse já perdeu a dignidade quando decidiu se apoderar de recursos que não lhe pertencem, prejudicando outros serem humanos.

Não adianta o desejo de alguns de atribuirem aos corruptos uma dignidade que eles não tem. De onde saiu essa noção mais absurda de que se deve preservar a dignidade dos corruptos?

Ao tentarem atribuir uma dignidade que os próprios corruptos se negam, as autoridades brasileiras ferem a dignidade da população honesta que paga impostos, e aquela que necessita dos bens públicos para atingirem um nível mínimo de bem estar.

Igual jabuticaba, isso só existe no Brasil, o país dos bonzinhos!

·        * Administrador de Empresas, Doutor em economia pela Universidade Estadual de Michigan, e Membro do Conselho de Administração da AMARRIBO BRASIL.

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