sábado, 11 de agosto de 2018

Repeteco: Parabéns Dourado pelos 120 anos. Parabéns Atílio Jacobucci pela lição de vida.

Sergio Ronco

Dia 19 de maio é aniversário de Dourado que estará completando 120 anos, o Blog do Ronco antecipadamente parabeniza o município. A melhor forma que este espaço encontrou para homenagear a cidade, foi homenageando um de seus filhos, que tanto engradece a cidade e sua gente, falo de  Atílio Jacobucci.


Relojoaria Jacobucci - Fundada em 1918 - Dourado


Este relado é daqueles que nos dá prazer, pois na conversa que tive com Atílio Jacobucci por mais de duas horas, em sua residência e também no local onde trabalhou por muitos anos, me fez viajar no tempo e minha imaginação foi  como se estivesse assistindo a um filme, com direito a enredo dos mais bonitos.

Nicolino Jacobucci e Beatriz Jacobucci(foto à esquerda) tiveram 4 filhos, Bambina que está com 97 anos, Atílio que no mês de junho próximo completará 95 anos, Dirceu que faleceu com 92 anos recentemente e Berenice, também falecida aos 84 anos. Nicolino nasceu em Campobasso, uma província italiana, chegando ao Brasil com 11 anos de idade.

Nossa conversa, como disse, foi com Atílio Jacobucci, nascido em 13 de junho de 1922, que tem dupla cidadania, brasileira e italiana, foi casado com Cezarina Truzzi Jacobucci e desse casamento nasceram 5 filhos: Nicolino, Newton, Carmen Beatriz(falecida), Atílio Jacobucci Júnior e Adriano. E aqui um registro importante, Atílio Jacobucci e quatro dos cinco primeiros filhos, nasceram na residência da Rua Marques Ferreira 55, sob os cuidados da parteira Ascension  Padilha com parto normal.

Em seu segundo casamento com Maria Aparecida Valente Jacobucci, nasceram André Luiz e Elaine Beatriz. A família cresceu e vieram ao mundo, 9 netos e 11 bisnetos. 

Não é difícil explicar o porque me interessei em relatar um pouco das memórias do "Seo" Atílio. Primeiro por ser um cidadão douradense de primeira linha, ama a cidade onde nasceu, criou seus filhos em Dourado, trabalhou desde os 15 anos e hoje, aposentado diz com orgulho " O Rotary Club é minha vida". Realmente, a história do Rotary  Club Internacional de Dourado se confunde com parte da vida do douradense Atílio, que foi o fundador na cidade, da entidade Rotary, que está presente no mundo e é definido como um clube de serviços à comunidade local e mundial sem fins lucrativos, filantrópico e social.
Uma das muitas lembranças de sua trajetória no Rotary Club de Dourado

A história de Atílio junto ao Rotary de Dourado, fundado em 1969, único membro ativo desde sua fundação, está estampada por toda sua residência, com fotos, troféus, medalhas e convites de todas as épocas. Cada lembrança tem uma história e um significado em sua vida. "Cada vez mais eu amo o Rotary, eu vivo o Rotary", disse Atílio, que já presidiu a entidade por cinco oportunidades.

Chequei na hora marcada, pontualmente as 15h00, do dia 17 de maio último, e Atílio(vou me permitir chamá-lo daqui para frente apenas de Atílio, apesar de ficar meio estranho, pois na mente me vem o Senhor, ou "Seo" Atílio).

Atílio Lá estava a minha espera, impecavelmente vestido, como sempre, e na lapela o símbolo maior do Rotary Club. Alguns recortes de jornais e revistas previamente selecionados me aguardavam.

                                                                                     Sobre a cidade de Dourado
Vai ser muito difícil achar outro douradense que possa gostar mais que Atílio, da cidade, quem sabe acharemos outros iguais a ele. As lembranças são tantas, os nomes são vários e como se estivesse revivendo alguns desses momentos, o relato foi fluindo vagarosamente com a voz pausada e baixa e os movimentos com as mãos, eram como se portasse  uma batuta e naquele instante fosse um maestro. De acordo com Atílio, a zona urbana era menor que a rural que abrigava um grande número de trabalhadores nas fazendas, onde no passado o café era o produto agrícola valioso e muito bem explorado na cidade. Atílio lembra com tristeza o dia que a bordo do trem da Estrada de Ferro Douradense, passando por Trabiju, viu uma montanha enorme de café sendo incinerado. O fato ocorreu quando a crise que ocasionou a falência de muitos produtores de café, com isso, a produção entrou em declínio. Depois da época áurea do café, veio o algodão, que durantes muitos anos impulsionou a economia da cidade.

                                                                                  Ourives e Relojoeiro
A profissão de seu pai Nicolino, foi de ourives, a Relojoaria Jabobucci foi fundada em 1918, portanto, no próximo mês estará completando 100 anos de fundação. Nicolino fabricava joias em ouro e as revendia para Dourado e região. Algumas das máquinas para essa fabricação, estão preservadas no próprio prédio, onde tudo teve início. Atílio aprendeu a profissão de ourives em São Paulo e por longos anos foi artesão dessa profissão que mais tarde aliou a outro conhecimento, a de concertar relógios. Nesse mesmo prédio, onde está estampada a data de fundação, Atílio trabalhou por 72 anos, de 1935 a 2007, quando resolveu fechar as portas da relojoaria.
Uma foto histórica: Igreja São João Batista, em construção, sem a cúpula

Ministro da Diocesse de São Carlos
Atílio Jacobucci, foi o primeiro Ministro da Eucaristia da Diocesse de São Carlos, recebendo a missão do Bispo Dom Constantino, no ano de 1971. Até hoje, Atílio é Ministro, que também recebeu a fita azul, por ter sido Congregado Mariano e presidente por um período de 10 anos. Como Ministro, Atílio visitava as fazendas de Dourado aos domingos com a equipe de catequistas, para que as crianças tivessem acesso ao catecismo. 

                          Representante em Dourado do Jornal "O Estado de São Paulo"
Atílio foi agente, representante e distribuidor do Jornal "O Estado de São Paulo" em Dourado, por 60 anos. Jacobucci, recebeu durante todos esses anos das oficinas gráficas do Estadão o jornal mais importante do país, distribuindo aos seus assinantes diariamente. Um belo dia, Atílio foi visitar a redação do Estadão e foi recepcionado por um de seus donos, o qual sugeriu uma pauta de matéria sobre o trabalho do representante de Dourado.

Política de Dourado
Atílio diz que hoje não se interessa mais por política, apesar de todo dia assistir ao Jornal nacional. Perguntado qual foi o prefeito de Dourado que mais havia marcado em sua vida, foi direto e objetivo: Edmar Monteiro, a quem rasgou elogios. "Foi na época do Edmar que a cidade construiu o esgoto, não tínhamos esgoto na cidade", disse Atílio que emendou: "Edmar cuidou da cidade sem se mostrar, sem querer aplausos, administrou o município por gostar de Dourado".

O Comércio de Dourado                                                 
No seu relato sobre o comércio de Dourado, até o tom de sua voz subiu: " Muito ativo, muito bom"! disse Atílio. Lembrou de várias casas comerciais, e ainda pediu para que eu fotografasse um banco que ainda está na Praça da Matriz(foto ao acima), a de uma padaria que na inscrição desse banco está grafado que a Padaria Roma era movida a eletricidade. Atilio contou que não havia energia elétrica nessa época e que o pão era feito a mão, e quando chegou a energia, foi algo novo e muito comemorado. Atílio lembrou com saudades da Alfaiataria e Barbearia Grobba, de propriedade de Antonio Grobba, que também foi congregado mariano, servindo de secretário para Atílio. "Eu vou ao cemitério e me lembro da fisionomia e da vida de cada um deles, com muita saudade", disse Atílio

As facilidades domésticas
Para Atílio Jacobucci, hoje as facilidades domésticas são impressionante. "Não tínhamos geladeira, os fogões eram a lenha, os alimentos tinham que ser conservados em latas de banha, mas não reclamávamos, mesmo porque nem pensávamos que um  dia teríamos tanta facilidade", disse Atílio. " O pão era feito em casa, o sabão era feito em casa, a massa de tomate, quase tudo era feito em casa, a roupa era lavada com a própria força da mãos, não tínhamos máquinas. A vida de hoje nesse aspecto, é muito mais facilitada", disse.

O Grupo Escolar
Atílio estudou no Grupo Escolar de Dourado, e em um momento de emoção me pareceu que  sua voz ficou embargada ao falar dos professores Abrahão e  Godofredo. "Tenho excelentes lembranças dos meus professores, lembro deles com muito carinho", disse.


 A Estrada de Ferro                                                       
"Eu me lembro perfeitamente dessa época. "Eu tenho uma foto do último trem que partiu de Dourado em 30 de julho de 1966. Meu filho Junior estava no estribo da máquina. Na estação estavam dois guardas com espingardas nas costas para garantir a saída do trem, pois havia o receio de que a população pudesse não deixar o trem sair. Tocou a sineta, dois minutos depois, o trem partiu e foi embora. Foi uma tristeza", falou Atílio.
                                Cervejaria Guarany e Guaraná Tupy em Dourado
Cervejaria
O pai de Atílio, o Nicolino herdou uma fábrica de cerveja de seu pai José, instalada em Dourado. Atílio, antes de ingressar na relojoaria, trabalhou de vendedor de cerveja e guaraná da marca Tupy. Atílio tomava o trem em Dourado que passava pela Vila Santa Clara onde havia um armazém, de propriedade de Manoel Sanchez, era o primeiro freguês da linha. O trem esperava o Atílio tirar o pedido com o "Seo" Manoel. "Dava tempo de eu tirar o pedido, tocar a sineta do trem que partia para Trabiju, meus próximos clientes da linha", disse. Mais a frente, a cervejaria parou e continuou apenas com a fabricação do Guaraná Tupy que posteriormente foi vendida para Dionísio Tavano. Atílio lembra que na época chegou um refrigerante no país com o nome de Coca Cola. Dionísio teve a ideia de colocar o nome no guaraná de Bola Cola, mas a ideia não prosperou, segundo Atílio. "Nós comprávamos o selo que lacrava a garrafa do guaraná, na coletoria federal de Dourado. O Sr. Amâncio Cardoso era o coletor e o Alceu Penteado, ajudante do coletor
                                             Os automóveis em Dourado
O Ford de propriedade de Atílio Jacobucci, o único estacionado em frente a relojoaria

O primeiro automóvel comprado por Atílio foi um Ford 1919, que adquiriu do douradense Gervásio Tenca. De acordo com Atílio, que na época não tinha habilitação, o Gervásio se comprometeu a acompanhá-lo em Jau para receber as aulas e instruções legais para dirigir. Só então Atílio teria pago o automóvel. A carta de Atílio é de 1945 e está validada ainda hoje, que vence em 2018.


Mensagem
Perguntado qual a receita para longevidade, Atílio disse "Sem exageros".

Nota do Ronco: Para mim foi um enorme prazer conversar com o "Seo" Atílio, afinal não é sempre que encontramos um cidadão com o seu perfil, com a sua idoneidade, com sua edução e com o seu caráter. Meus respeitos "Seo" Atílio!
Fotos: Ronco

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